O IBGE
divulgou ontem que o IPCA subiu apenas 0,03% em julho. Ótimo. Foi a menor marca
para o mês desde 2010. Melhor ainda. Com o resultado, a inflação oficial
acumulada nos últimos 12 meses ainda está em 6,27%. Péssimo. Quem pode se dar
por satisfeito com um índice tão alto assim?
Em algumas capitais, a inflação é bem mais elevada do que a
média nacional. Em Fortaleza, por exemplo, supera 8% na variação acumulada em
um ano; em Belém e Recife, está em torno disso. Diante destas constatações, não
parece nem minimamente razoável considerar o dragão domado.
A inflação foi muito baixa em julho por fatores muito
pontuais e circunstanciais. O principal deles a revogação das tarifas de
transporte público. Os aumentos haviam sido postergados no início do ano
justamente para evitar uma explosão dos índices de preços àquela altura. Caíram
agora sob a pressão das ruas.
As autoridades de Brasília sabem que este componente – que estava
completamente fora dos planos até as manifestações de junho – foi a principal
razão para o resultado favorável de julho. Como, então, com base num fator
extemporâneo, se dizem vitoriosas numa guerra tão importante quanto a que o país
tem que travar contra a alta dos preços?
Alimentos também recuaram bem em julho, ajudados pela safra
agrícola. No entanto, são itens que ainda pesam muito na cesta de consumo dos
brasileiros: seus preços sobem 11,4% nos últimos 12 meses e 5,6% só neste ano.
Não fossem estes dois fatores positivos, o IPCA de julho
último teria sido praticamente igual ao do mesmo mês do ano passado (0,25%) e a
inflação acumulada ainda estaria lambendo o teto superior da meta. Será esta
uma situação minimamente confortável?
A evolução dos preços dos serviços é outro indicativo de que
o quadro não pode ser considerado satisfatório. A alta acumulada em 12 meses é
de 8,5% e os aumentos em julho ficaram no mesmo nível registrado em junho
(0,64%). Aluguéis e serviços de empregados domésticos estão pesando especialmente
nesta conta.
Qualquer um que leve uma vida normal sabe que os preços
estão doendo no bolso. Não há salário que acompanhe os aumentos da inflação. Na
maior parte dos casos, também não há investimento financeiro que consiga superar
a corrosão mensal. Esta é uma guerra que o dragão ainda está ganhando, com
larga folga.
Mas, como quem vive em outro mundo, Dilma disse,
na terra do ET de Varginha, que “a inflação está completamente sob controle”. Menos,
presidente! Um país que convive há tempo com taxas médias próximas a 6% ao ano
não pode considerar ter domado os preços.
A inflação brasileira tanto não está sob controle, que a
previsão geral para 2014 (5,87%) é de índices ainda mais altos que os de 2013
(5,75%), segundo o Boletim Focus do
Banco Central. Tanto não está comportada que, em 10 dos 31 meses da gestão Dilma
transcorridos até agora, o acumulado em 12 meses superou o teto da meta
definida pelo governo.
O governo sabe, ou deveria saber, que estes vales nas curvas
de inflação verificados no meio do ano são sazonais e recorrentes. Foi assim em
2010, quando o IPCA saiu de 0,78% em janeiro para 0,01% em julho; em 2011, quando
foi de 0,83% para 0,16%; e, no ano passado, caindo de 0,56% para 0,08% nos
mesmos meses. Ou seja, passada a bonança, a curva sempre volta ascendente.
O governo também sabe, ou deveria saber, que há vários
fatores artificiais ajudando a inflação neste momento. Além do represamento dos
aumentos de tarifas de transporte público, a defasagem dos combustíveis –
estimada em 20% – dá sua poderosa contribuição. Com o dólar em alta, esta
situação é insustentável: um dia a alta terá de vir, e não será pequena.
Para o bem do país, o governo não deveria negar o óbvio ou
tentar vender uma versão que não corresponde à realidade. Precisa, isso sim,
perseverar no combate à alta generalizada de preços, manter uma política monetária
austera e tornar a sua política fiscal menos expansionista, menos gastadora e,
portanto, menos inflacionária.
Para o bem do país, o governo não deveria se dar por satisfeito
em ter uma inflação como a dos níveis atuais e um crescimento econômico tão medíocre
como o que o Brasil vem obtendo, transformando-nos numa jabuticaba no mundo. O IPCA
registrado em julho é um gol a ser comemorado, mas a partida ainda está longe
de acabar.
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