Molina foi transferido no último fim de semana a Brasília
pelo encarregado de negócios da embaixada do Brasil na Bolívia, o diplomata
Eduardo Saboia. Estava há 452 dias confinado num cômodo da representação
brasileira em La Paz depois de ter obtido asilo do governo brasileiro.
Aguardava, desde então, que o governo Evo Morales lhe concedesse, como preveem as
boas regras de conduta do direito internacional, salvo-conduto para poder
deixar o país. Sem sucesso.
As condições em que vinha vivendo o senador – o mais
aguerrido político de oposição ao governo Morales – eram precárias. Ele não via
a luz do sol, não saia do quarto (na realidade, uma sala sem ventilação onde
fica o telex da embaixada) e mal encontrava pessoas. Da família, só teve
contato com a filha mais nova, Denise, ao longo destes 15 meses. Sua saúde
estava em estado deplorável.
“Você imagina ir todo dia para o seu trabalho e ter uma
pessoa trancada num quartinho do lado, que não sai? (...) O senador estava
havia 452 dias sem tomar sol, sem receber visitas. Eu me sentia como se fosse o
carcereiro dele, como se eu estivesse no DOI-Codi. O asilado típico fica na
residência, mas ele estava confinado numa sala de telex, vigiado 24 horas por
fuzileiros navais”, relatou Saboia à Folha de S.Paulo.
Há uma semana, Molina foi examinado por um médico, depois
que Saboia informara ao Itamaraty que seu quadro de saúde piorava a olhos
vistos. O laudo apontou uma série de problemas, como candidíase (infecção que
indica enfraquecimento do sistema imunológico), taquicardia, hiporexia (perda
de apetite), taquicardia, dificuldade respiratória, pressão alta e síndrome
depressiva, como informa o Valor Econômico.
O governo Dilma, porém, continuou sem agir. Foi aí que
Saboia, fortemente movido por valores cristãos, levou adiante a transferência
do senador boliviano para solo brasileiro. Deixou de lado regulamentos frios e
optou por princípios que nossa diplomacia sempre prezou, em especial a defesa
dos direitos humanos, mas que claramente vinham sendo violados no caso de
Molina.
Para levar seu intento a bom termo, o diplomata teve que
cruzar 1.600 km de estradas, cortar áreas dominadas pelo tráfico de drogas e,
finalmente, desembarcar em Corumbá (MS) depois de uma epopeia quase heroica. Por
sua postura valorosa e ousada, Saboia receberá como retribuição do governo
brasileiro um processo administrativo e deverá ser “severamente punido” por “grave
quebra de hierarquia”, segundo O Estado de S.Paulo.
Entre ficar com valores que historicamente orientam nossa
diplomacia e agradar um governo pouco afeito à democracia, o governo da
presidente Dilma Rousseff ficou com a segunda opção. Sacrificar o chanceler Patriota
e punir Saboia com rigor transformou-se em gesto de mesura de Brasília junto ao
governo de Evo Morales, ao qual, mais uma vez, a gestão petista se curva –
numa tradição que vem desde a desapropriação acintosa de um bilionário ativo da
Petrobras logo no início do mandato dele, em 2006.
O que Eduardo Saboia fez é o que qualquer pessoa de bem
faria: ajudar um cidadão a não sucumbir à tentação de desistir da vida. Entre praticar
o que os preceitos humanitários indicam e defender a liberdade de um homem ou
dizer amém a um governo insensível e despótico, ficou com suas convicções cristãs.
Deveria ser tratado com honrarias, mas, para a apequenada e pusilânime diplomacia
brasileira, ele não passa de um delinquente.
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