Os petistas
conseguiram, enfim, fazer uma privatização bem-feita, unindo alta arrecadação,
lances muito acima dos preços mínimos e participação de grandes e experientes operadores
globais. Tudo o que não acontecera nos primeiros leilões de aeroportos
(Viracopos, Guarulhos e Brasília), no início de 2012, e tampouco na concessão
do campo de petróleo de Libra, vencida, no mês passado, sem disputa e sem uma
gota de ágio.
A briga pelos
terminais do Galeão e de Confins, na região metropolitana de Belo Horizonte,
rendeu lances de R$ 20,8 bilhões, com ágios de 294% e 66%, respectivamente.
Alguns dos maiores operadores aeroportuários do mundo, como o de Cingapura, o
de Munique e o de Zurique, integram os consórcios vencedores. Bom para os
usuários, bom para o Brasil. Pena que tenha demorado tanto.
Costuma-se dizer que
o governo petista perdeu dois anos entre as idas e vindas do processo de
privatização dos aeroportos, iniciado em fevereiro de 2012. Qual o quê! Foi
muito mais. A exaustão dos terminais brasileiros é evidente há bem mais tempo –
como as lembranças do caos aéreo de 2007 não deixam esquecer – mas não foi
suficiente para despertar o PT da sua letargia doutrinária e eleitoreira.
Basta dizer que o
volume de passageiros no país aumentou 171% desde 2002 sem que os aeroportos
(mal) administrados pela Infraero nem de perto tenham acompanhado a explosão da
demanda. “Os investimentos [no setor] giraram em torno de 0,05% do PIB,
resultando numa operação acima da capacidade como regra geral”, ressalta Paulo
Resende, especialista da Fundação Dom Cabral.
Estudo da Bain&Company
mostra que, entre 2003 e 2012, a capacidade de transporte aéreo no Brasil
cresceu 2,3 vezes mais que a dos aeroportos. Para complicar, a demanda
projetada pelas companhias aéreas para 2020 exige investimentos de pelo menos
R$ 42 bilhões nos próximos oito anos. O poder público seria capaz de fazer frente
a isso? Claro que não.
Com enorme atraso, o
Brasil decola um processo que já se desenrolou há quase 20 anos em países como
Alemanha, Inglaterra e Dinamarca e, já no fim do século passado, havia
alcançado vizinhos como Argentina, Peru e Costa Rica. É o preço que fomos
obrigados a pagar pela oposição raivosa e oportunista do PT às privatizações.
O processo de
concessões petista ainda guarda um ranço antiprivatista e estatizante,
representado pela manutenção de 49% do capital dos consórcios em poder da Infraero
– uma exigência dos editais – e pela elevada participação do BNDES no
financiamento dos investimentos – estimada em cerca de 70% dos R$ 9,2 bilhões
previstos. Teriam sido imprescindíveis para o sucesso do leilão?
Sobre a
incompetência da Infraero e do governo nesta área, nem é necessário gastar
muito latim. Basta dizer que a estatal tem obras atrasadas em sete dos oito
aeroportos que gere em cidades-sede da Copa de 2014, como mostrou O Globo em setembro – os mais adiantados
realizaram menos de 40% das intervenções previstas. Já o governo petista executou
neste ano apenas 53% dos R$ 2,6 bilhões de que dispõe para melhoria dos
terminais do país.
É praticamente certo
que os aeroportos privatizados experimentarão um salto de qualidade doravante.
Infelizmente, dado o atraso no cronograma do governo Dilma, os usuários ainda terão
que esperar algum tempo até começar a desfrutar do conforto e dos novos
benefícios: as concessionárias assumirão os terminais apenas em março do ano
que vem, sem tempo algum, por exemplo, para fazer quaisquer melhorias para a
Copa.
Mesmo que ainda
demore um pouco, os aeroportos privatizados irão gerar nos passageiros um gosto
de quero mais e é possível que, até por efeito-demonstração, a sociedade passe
a cobrar que mais terminais, entre os cerca de 60 que ainda serão mantidos sob
a alçada da Infraero, sejam transferidos para concessionários – com especial
atenção aos do Nordeste.
Em sua única
manifestação pública até agora sobre os leilões do Galeão e de Confins, Dilma
Rousseff deixou transparecer sua incredulidade com tão vistoso resultado: “Não
deu errado. (...) Vou repetir: não deu errado!”, afirmou ela, eufórica, na
sexta-feira no Ceará. Parece até que foi apanhada de surpresa, dado o histórico
de fracassos de seu governo nas demais privatizações de infraestrutura. É como
se dissesse: “Até que enfim, não erramos.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário