Há poucos dias,
Dilma Rousseff disse que considera “absurdo” parar obra envolvida em
irregularidade. Pode até ser que um caso ou outro seja mesmo indevido, mas o
que será que a presidente teria a dizer sobre as condições de nossa infraestrutura,
em especial nossas rodovias? Absurdo é o estado em que se encontram.
No início do mês, a
Confederação Nacional do Transporte (CNT) divulgou levantamento anual sobre a
situação da malha rodoviária brasileira. A pesquisa constatou que 64% das
nossas estradas estão com problemas. O percentual subiu, ainda que levemente,
em relação ao ano anterior. Ou seja, pior do que está fica.
Não é preciso muito esforço
para verificar a olho nu o que a CNT constata com método e critérios técnicos.
A situação de penúria da maioria das nossas estradas é evidente. Passam anos e
não se vê, infelizmente, uma ação efetiva dos responsáveis – em especial o
governo federal, que tem cerca de 62 mil km da malha nacional sob sua alçada,
da qual pouco mais de 7% duplicada.
Os problemas vão de
pavimentação deficiente, sinalização ruim a geometria inadequada, o que aumenta
riscos de acidentes e torna as viagens mais custosas. Para consertar a
situação, seria necessário investir algo em torno de R$ 355 bilhões, ainda de
acordo com a CNT. Não se enxerga no horizonte capacidade do governo para levar
o desafio adiante.
A área de
transportes tem se notabilizado como uma das mais ineficientes da gestão Dilma.
A cada ano, ouvimos promessas de que agora, finalmente, nada será como antes. Mas,
a cada dia, surgem novas justificativas para o desempenho pífio do setor que
deveria zelar pela manutenção e pela melhoria das nossas vias. Tudo continua
como antes, ou pior.
Na semana passada, o
Valor Econômico publicou entrevista com o ministro da área, César Borges. A
impressão que se tem lendo as declarações dele é que o governo petista acabou
de começar. É incrível como, 11 anos depois de chegar ao poder, o PT e seus
aliados seguem justificando sua inaptidão para governar como quem tivesse
desembarcado ontem.
O que mais choca é o
baixíssimo desempenho da máquina estatal. Segundo o jornal, o governo da
presidente Dilma está conseguindo investir em transportes neste ano ainda menos
do que gastou em 2012 e menos até do que aplicou em 2011. É como se o país não
tivesse imensos problemas viários e logísticos para destravar.
Segundo dados
compilados pelo Ipea e divulgados pelo Valor,
“2013 caminha para registrar o pior resultado de execução orçamentária dos
transportes desde o início do governo Dilma”. O investimento deve cair a R$ 9
bilhões. Em 2012, o valor (R$ 10,4 bilhões) já havia baixado em relação ao ano
anterior (R$ 12,9 bilhões). Como se explica isso num país com carências como as
nossas?
Até outubro, o
governo havia dispendido menos da metade dos R$ 14,6 bilhões reservados no
Orçamento da União para investimentos em rodovias e ferrovias neste ano. Os
efeitos desta incúria sobre a economia real e a vida das pessoas é direto: as
más condições viárias elevam os custos operacionais em cerca de 25%; os
acidentes e as mortes crescem.
Uma das esperanças
de que a situação mudasse estava no programa de concessões que o governo Dilma
lançou, mas ainda não conseguiu executar. A pesquisa da CNT reforça a
constatação de que ninguém melhor que a iniciativa privada para cuidar das
nossas principais estradas: enquanto somente 27% das rodovias sob gestão
pública são classificadas como “ótimas” ou “boas”, 84% das concedidas estão
nestas condições.
O problema do
governo – e eis por que esbarra sempre em órgão zelosos como o TCU – é que a
qualidade dos projetos técnicos que dão suporte às obras é sofrível e acaba
dando margem a atrasos, aditivos contratuais e aumentos reiterados de custos.
Não resta dúvidas de que, nesta autoestrada da ineficiência, a presidente
vendida ao eleitorado como mestre em gestão nos conduz de mal a pior. É um beco
sem saída.
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