A piora vem já de
alguns anos e não parece caminhar para uma reversão no horizonte visível. Pelo contrário.
O comportamento das contas públicas é cada vez mais decepcionante. Esta, sim,
será uma herança maldita e tanto que a petista legará a seu sucessor, daqui a pouco
mais de um ano.
Ontem, foi divulgado
o resultado fiscal do governo em setembro. Os adjetivos empregados pela
imprensa nas notícias de hoje é suficiente para dar conta de quão ruim foi o
desempenho.
Foi “surpreendentemente negativo”, segundo O Estado de S.Paulo; um “péssimo resultado”, de acordo com o Valor Econômico, e “um rombo exemplar”,
na síntese de Miriam Leitão n’O Globo.
Os números confirmam a dureza dos vernáculos.
O déficit registrado
no período foi de R$ 9 bilhões, no pior resultado já alcançado num mês de
setembro em toda a série histórica do Banco Central e o maior rombo em quase
cinco anos – ou, mais precisamente, desde dezembro de 2008, auge da crise
financeira global. Em agosto, as contas públicas também já haviam fechado no
vermelho.
Em relação ao
acumulado em 2012 até setembro, o superávit já caiu pela metade neste ano. Se comparado
a dois anos atrás, a redução chega a 63%. “A queda do superávit primário não é
algo conjuntural, ele é estrutural e não será passível de reversão nos próximos
dois anos”, diagnostica Mansueto Almeida no Estadão.
“Está abandonada a meta de superávit de 2,3% do PIB e a degradação fiscal é
mais acelerada do que se previa no próprio governo”, informa Claudia Safatle no
Valor.
O governo gasta
muito e gasta muito mal. Enquanto as chamadas despesas primárias cresceram R$ 79
bilhões no ano até agora, os investimentos públicos aumentaram apenas R$ 1,3
bilhões, ou o equivalente a somente 2,9%. O PAC é uma sombra quase invisível
perto da montanha de gastos correntes que a máquina petista promove.
As despesas do
governo crescem num ritmo bem maior do que as receitas: 13% e 8%,
respectivamente. Mais uma vez, a meta de superávit não será alcançada: no
acumulado em nove meses, o superávit é de R$ 45 bilhões e o governo teria de
economizar R$ 66 bilhões no último trimestre para atingir o alvo. Sem bruxaria,
impossível. Expurgadas as maquiagens contábeis, será a quarta ocasião em que
isso acontecerá num intervalo de cinco anos.
O descontrole nas
contas significa menos poupança e deverá exigir mais aumentos de juros para
enxugar a quantidade de dinheiro em circulação e evitar que mais gasolina respingue
na fogueira da inflação. Neste ambiente, parece favas contadas o rebaixamento
da classificação de risco dos títulos brasileiros no início do ano que vem.
Parte do rombo atual
deve-se a medidas que o governo tomou de maneira voluntarista, para dizer o
mínimo, e irresponsável, para dizer o certo. Os subsídios para a redução das
contas de energia elétrica estão custando caro (foram R$ 2 bilhões em
setembro), as desonerações tributárias já abocanharam quase R$ 60 bilhões no
ano e as transferências para os municípios – feitas justamente para compensar
as isenções de impostos – comeram outro tanto (R$ 1,5 bilhão no mês).
O Banco Central vê
um quadro “desafiador” e, à guisa de resposta, o ministro da Fazenda saca da
algibeira medidas paliativas e improvisadas – como as mudanças nas regras de concessão
de seguro-desemprego e do abono salarial, prometidas há mais de dois anos e jamais
implementadas – para tentar diminuir o rombo e acalmar o mercado.
O governo age como
um endividado que vive em regime da mão para a boca. Receitas extraordinárias,
como os R$ 15 bilhões obtidos com o leilão de Libra, ajudarão a evitar um
desastre maior na governança fiscal. Pagamentos de dívidas renegociadas junto à
Receita devem somar mais um naco. Mas serão insuficientes para alterar o quadro
geral.
Uma dona de casa que
administra tão mal as finanças de sua casa provavelmente já estaria há muito
tempo na rua da amargura. A porta de saída será a serventia que o eleitorado
oferecerá a Dilma no ano que vem pela forma perdulária como ela trata o
dinheiro dos brasileiros.
Permitir que as
finanças do governo galopem pelo descontrole é a forma mais evidente de
demonstrar desrespeito pelo sacrifício dos cidadãos, que labutam e pagam
impostos para ver o governo devolver-lhes quase nada na forma de serviços de saúde,
educação, transporte e segurança. Comportamento irresponsável com as contas públicas
casa com desdém pela melhoria das condições de vida dos brasileiros.
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