A mais nova onda de
pessimismo foi detonada na semana passada, com a divulgação dos resultados
fiscais de setembro. Ato contínuo, os agentes de mercado reagiram elevando os
juros futuros e impulsionando a alta do dólar – foram 4% nos últimos dias. Tais
preços são os principais termômetros de febres altas na economia.
O déficit de R$ 9
bilhões é o maior para meses de setembro desde que o país começou a aferir com
seriedade o desempenho das contas do governo. No ano, o superávit já caiu pela
metade na comparação com o mesmo período de 2012, para R$ 45 bilhões. Ninguém
crê que, em apenas três meses, o governo consiga poupar os R$ 66 bilhões
necessários para cumprir a meta de 2,3% do PIB anunciada em maio.
O superávit
acumulado em nove meses – 1,3% do PIB – é o mais baixo dos últimos 15 anos. Mas
a situação pode ser ainda pior: expurgado de truques contábeis e receitas
extraordinárias para engordar as receitas, o resultado é de magro 0,7% do PIB, segundo
cálculos de Alexandre Schwartsman, na Folha de S.Paulo. Há uma evidente incapacidade de poupar e produzir os
resultados fiscais necessários para segurar o endividamento público do país.
A gestão Dilma quer
fazer crer que os gastos sobem por uma opção preferencial do governo pelo
social, conforme sustenta hoje o Valor Econômico. Trata-se de explicação a posteriori, na tentativa de dourar
a pílula da expressiva piora nas contas. Na realidade, o governo não faz a menor ideia do que está acontecendo. Há claro descontrole.
As despesas em geral
subiram 13,5% no ano, bem acima do previsto, superior à alta das receitas e
muito além do pibinho. As desonerações fiscais também estão maiores do que se
estimava: há apenas seis meses, dizia-se que a conta ficaria em R$ 70 bilhões,
mas já se sabe que está beirando R$ 80 bilhões. A questão é: que resultados produziram, além de benefícios localizados e pontuais?
O que ninguém do
governo consegue explicar é por que os investimentos não acontecem. Porque esta
tem sido a promessa desde o início da gestão Dilma, e fora reiterada no início
do ano como a pedra de toque de 2013. Já estamos em novembro e nada aconteceu. Cadê?
Em termos nominais,
os investimentos cresceram somente 2,9% neste ano; se descontada a inflação, diminuíram.
Em números: enquanto as chamadas despesas primárias subiram R$ 79 bilhões no
ano até agora, os investimentos aumentaram apenas R$ 1,3 bilhão.
Para fazer frente a tão acachapantes constatações de desvirtuamento
da política econômica, ministros como Guido Mantega, Gleisi Hoffmann e Ideli Salvatti
se esfalfam para, numa ação articulada, dizer que a situação está sob controle.
Arno Augustin, secretário do Tesouro, vai mais longe e diz que os críticos estão
produzindo um “ataque especulativo” contra a proba gestão Dilma. Só pode ser piada.
O Planalto também gasta energia denunciando uma “pauta-bomba”
do Congresso destinada a inflar ainda mais os gastos públicos, mas quem está
explodindo as contas é o próprio governo. É a própria gestão da presidente, na
sua maneira irresponsável e voluntarista de enfrentar os problemas do país, que
dá margem para propostas perdulárias.
“O governo Dilma se comporta como se tivesse sido
surpreendido. Nenhum dos figurões de Brasília esperava pela trombada na área
fiscal (receitas e despesas públicas), que parece consumada. E reagem como
baratas tontas que tivessem levado esguichada de inseticida”, sintetiza Celso
Ming n’O Estado de S.Paulo.
Estamos assistindo os estertores de uma tentativa fracassada
de inventar uma nova fórmula de política econômica no país. A leniência fiscal,
o incentivo desmesurado ao consumo e o descompromisso com a inflação produziram
uma onda de desconfiança e perda de credibilidade. Foram para o lixo conquistas
tão arduamente alcançadas pelo Brasil depois da estabilização da moeda com o
Plano Real e da adoção dos preceitos da responsabilidade fiscal. Temos um governo-bomba
prestes a explodir.
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