Já dizia, muito
tempo atrás, o governador paulista Franco Montoro: “As pessoas não moram na
União ou nos estados; elas vivem nas cidades.” A frase serve à perfeição para sublinhar
quão importante é recuperar a capacidade dos gestores municipais – e, hoje, também
dos estaduais – para prestar melhores serviços à população.
Nos últimos anos,
passou a ocorrer um intenso movimento de centralização de poderes em favor do
governo federal. Primeiro, os tributos foram sendo progressivamente açambarcados
pela esfera central; depois, obrigações em áreas como saúde e educação foram
sendo repassadas aos entes subnacionais.
Os recursos
tributários estão cada vez mais concentrados no governo federal. Desde 2000, a
fatia da União no total da receita tributária disponível cresceu dois pontos
percentuais, para 57,6% do total, avançando, principalmente, sobre o quinhão
dos estados, que caiu na mesma proporção. Isso significa uma apropriação de
pelo menos R$ 31 bilhões por parte do governo federal.
Daí resultou uma
federação desequilibrada, em que o poder central dispõe dos recursos e estados
e municípios têm de arcar com responsabilidades crescentes. O resultado deste
desbalanceamento foi a deterioração progressiva da qualidade dos serviços
públicos prestados aos brasileiros.
A participação do
governo federal no financiamento de serviços como saúde e segurança é
decrescente. A União participa hoje com menos de 45% dos gastos públicos em
saúde, percentual que se aproximava de 53% dez anos atrás. Das despesas com segurança,
somente 13% são bancadas pela União, cabendo a estados e municípios todo o
restante.
A centralização, a
concentração de poderes na mão da União e o enfraquecimento dos entes
subnacionais que hoje assistimos no país só encontra paralelo em épocas de
exceção. Será esta a nação soberana pela qual lutamos?
O governo do PT faz
caridade com chapéu alheio: distribui benesses tributárias para amigos do rei, avançando
sobre impostos que seriam repartidos com estados e municípios, como o IPI, o
imposto de renda e a Cide. Só aí já foram R$ 5,6 bilhões a menos desde 2009,
segundo a Confederação Nacional dos Municípios.
A atual divisão de
direitos e deveres entre as diferentes esferas de governo está tirando o
oxigênio de estados e municípios para cuidar daquilo que mais interessa à
população: oferecer serviços de melhor qualidade de saúde, educação ou
segurança. Quem tem as maiores responsabilidades de atender os cidadãos é hoje
mais penalizado.
O desarranjo
federativo também restringe a capacidade de estados e municípios cujas finanças
são saudáveis de contrair empréstimos e financiamentos para realizar os
investimentos necessários à melhoria de vida dos brasileiros. Mesmo assim, os
governos estaduais e municipais executam diretamente 73% dos investimentos
públicos realizados no país.
Convivemos hoje com um
federalismo de subserviência que enfraquece e divide o Brasil, que apequena as
lideranças regionais e monopoliza o protagonismo e a ação do poder público na Presidência
da República.
Só a cooperação e a
coordenação de ações pactuadas entre a União, os estados e os municípios serão
capazes de promover políticas públicas eficazes em todo o território nacional em
benefício do cidadão, sem corretagem de privilégios e a intermediação de
favores. Foi isso o que as principais lideranças tucanas reunidas ontem em
Poços de Caldas (MG) propuseram ao país.
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