O PT parece ter
visto na investigação da denúncia de prática de cartel em concorrências para
obras de expansão da rede metroferroviária em São Paulo uma oportunidade para
tentar envolver seus maiores adversários políticos na mesma lama em que o
partido dos mensaleiros chafurda. Para tanto, botou suas engrenagens em ação e
envolveu o aparato estatal na luta política.
Na última semana,
veio a público um documento que supostamente envolveria políticos tucanos no
recebimento de propina ligada a contratos do Metrô e da CPTM na capital
paulista. O papel teria partido de um ex-dirigente da Siemens, empresa que,
envolvida no cartel, firmou acordo de delação premiada com o Cade (Conselho Administrativo
de Direito Econômico).
Soube-se, em
seguida, que o suposto autor do papelucho desconhece seu conteúdo e até refuta
as acusações que supostamente constam do “documento”. A trama ficou ainda mais
cabeluda quando José Eduardo Cardozo assumiu ter sido o responsável por
encaminhar a denúncia à investigação da Polícia Federal. O ministro da Justiça enfiou
as patas na lama.
Ontem o PSDB mostrou
que Cardozo deu guarida a um papel fraudado que sequer correspondia à fiel
tradução do original, com a inclusão criminosa de nomes que simplesmente não
constavam da versão em inglês. É o PT exercitando sua conhecida má-fé – ou, quem sabe, a
“criatividade” que se tornou marca do partido até nas contas públicas do país...
Cardozo também tentou
proteger um funcionário de Estado que foi aprovado para o cargo omitindo suas
umbilicais ligações com o petismo: Vinicius Carvalho, parente do
secretário-geral da Presidência da República que foi alçado à presidência do
Cade depois de chefiar o gabinete do deputado petista Simão Pedro, o mesmo que agora
se notabiliza pelas denúncias dos contratos das obras paulistas.
Curiosamente, o
governo petista, com José Eduardo Cardozo à frente, só deu publicidade ao papelório
seis meses depois de recebida a denúncia, cinco meses depois de encaminhá-la à
Polícia Federal, mas somente cinco dias depois da prisão dos mensaleiros. Por que
demorou tanto? Por que só divulgou o que tinha em mãos quando seus colegas de
partido foram parar atrás das grades e na página da frente dos jornais?
Tem-se, portanto, um
enredo em que um papel sem autoria reconhecida é, segundo a versão do ministro
da Justiça, recebido oficiosamente num fim de semana e fora do ambiente de
trabalho das mãos de um companheiro de partido – Simão Pedro, deputado licenciado
e hoje secretário do governo Haddad – e dá origem a uma retumbante denúncia exatamente
no mesmo momento em que petistas do mais alto coturno ocupam manchetes vestindo
uniformes de presidiários.
Tratando-se do PT, faz
todo sentido que assim seja. Seu propósito é cristalino: tumultuar, mais uma
vez, o ambiente político, desviar o foco do escândalo do mensalão e dos
mensaleiros petistas presos no presídio da Papuda, na capital federal, e tentar
fazer crer à população que todos se igualam no lodo do submundo da política.
O PSDB deixou claro
que não teme investigações. Quer, aliás, que elas aconteçam da maneira mais
ampla, geral e irrestrita possível, desde que isentas, equilibradas, profundas.
Neste sentido, é necessário também apurar suspeitas similares que pairam sobre
contratos firmados pela CBTU, empresa federal vinculada ao Ministério das
Cidades, para reforma de trens em Porto Alegre e Belo Horizonte, conforme a
Polícia Federal e o Ministério Público Federal anunciaram
em agosto, mas até agora não se sabe no que deu.
Em tudo o mais novo
capítulo da baixa política protagonizado pelos petistas se parece com episódios
anteriores, como a falsificação de documentos por aloprados na campanha de
2006, o chamado dossiê Cayman, a “lista de Furnas” e a criminosa quebra de
sigilo de tucanos na campanha presidencial de 2010. O melhor detergente para
esta sujeira é a luz do sol. Que se apure a fundo todas as denúncias, mas que
se deixe de lado o uso espúrio do aparato estatal para fazer disputa política,
como faz o PT, mais uma vez.
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