André Vargas é um
símbolo do PT que acha que pode fazer e acontecer. Encarna a truculência, o
vale-tudo e a arrogância que o partido exibe no exercício do poder. Também como
boa parte de seus partidários, sonha com o “controle social” da mídia, a
censura que cala críticos. Provavelmente para que seus malfeitos não sejam
conhecidos.
Desde a semana
passada, Vargas está no foco dos jornais por suas relações perigosas com
Alberto Youssef, contraventor preso pela Polícia Federal sob a suspeita de ter patrocinado
a lavagem de R$ 10 bilhões desviados da Petrobras para cofres partidários e
bolsos de políticos do PT e da base aliada.
Provavelmente,
Vargas defende o controle da imprensa porque tem muito a esconder. Sua
trajetória como homem público descreve uma ascensão meteórica. Seu patrimônio multiplicou-se
por 50 vezes na década em que o PT passou a comandar o país, conforme mostrou O Globo no sábado. Será mera coincidência ou será um padrão que se repete
entre petistas?
Primeiro, soube-se
que o parlamentar usara graciosamente um jatinho do doleiro. Apanhado, André
Vargas disse que cometera apenas uma “imprudência”. Afirmou, da tribuna na
Câmara, que pagara pelo voo e que mal conhecia o dono da aeronave, Youssef. Tudo
mentira. Do doleiro é amigo há 20 anos, embora diga que não saiba com o que ele
trabalha. A viagem saiu de graça mesmo e agora se sabe por quê.
No fim de semana, a
revista Veja tornou pública a
associação de Vargas e Youssef em torno de negócios aparentemente escusos com o
poder público. A Polícia Federal investiga a hipótese de o deputado e o doleiro
serem sócios num laboratório chamado Labogen, que, embora minúsculo até pouco
tempo atrás, negociou contrato milionário – começou em R$ 30 milhões e poderia
chegar a R$ 150 milhões – com o Ministério da Saúde.
O negócio data da época
em que Alexandre Padilha, hoje candidato do PT ao governo de São Paulo,
comandava a pasta. Era, segundo mensagens de celular trocadas entre Vargas e o
contraventor preso pela PF, o passaporte para a “independência financeira”
sonhada pelo parlamentar.
A revelação levou
Vargas, vice-presidente da Câmara, a licenciar-se do mandato ontem por um período
de 60 dias. PSDB, DEM e PPS pediram ao Conselho de Ética da Câmara abertura de
investigação por quebra de decoro, o que poderá resultar na cassação do petista.
Para tanto, basta que as apurações comprovem que Vargas se valeu do mandato
para obter vantagens ilícitas, lesar o erário e também mentiu ao tratar sobre
suas relações com Youssef.
Merval Pereira
registra, n’O Globo, que o simples ato de aceitar promessa de vantagem é suficiente para
que se caracterize o crime de corrupção passiva, conforme descrito no artigo 317
do Código Penal. Se recebimento de propina e vantagens houve, pior ainda, embora
desnecessário para que Vargas seja condenado a passar uns anos na Papuda, em
companhia dos amigos mensaleiros que tão ardorosamente defendeu.
O caso de Vargas também
poderá ser julgado pelo STF. Ontem, a Justiça do Paraná enviou informações e
documentos dos autos da Operação Lava Jato para que os ministros avaliem se
abrem ou não investigação contra o parlamentar. Há suspeita de crimes como
evasão de divisas, lavagem de dinheiro e “corrupção de empregado público da Petrobras
[Paulo Roberto Costa, ex-diretor da estatal]”, segundo O Estado de S. Paulo.
O PT age para estender
um cordão em torno de Vargas e isolá-lo do resto do partido. Diz-se que Lula
foi um dos artífices do seu licenciamento do cargo. Cogita-se de o parlamentar renunciar
ao mandato. Se isso ocorrer, será enquadrado na Lei da Ficha Limpa e não poderá
concorrer em eleições durante os próximos oito anos. A elucidação de seus laços
com o submundo pode revelar, contudo, outros liames e falcatruas, envolvendo
órgãos do governo e desvio de dinheiro público.
Cabe ressaltar que Alberto
Youssef, o parceiro de André Vargas, está no vértice de operações triangulares que
resultaram em doações de empresas contratadas pela Petrobras – que, nos últimos
três anos, movimentou nada menos que R$ 90 bilhões sem licitação – ao PT e
partidos da base aliada, além de propina para funcionários públicos e políticos.
Já há suspeita de repasses, inclusive para mensaleiros, que podem chegar ao
valor de R$ 7,3 milhões, segundo O Estado de S. Paulo.
Vargas foi um dos
mais ferrenhos defensores dos mensaleiros, atacou sem pejo e sem compostura instituições
como o Judiciário, inclusive na pessoa de Joaquim Barbosa, e instrumentalizou,
como secretário nacional de comunicação do PT, a guerrilha suja e difamatória que
o petismo trava na internet. Com este currículo, era o nome que o PT ofereceria
ao eleitorado paranaense como opção para o Senado nas eleições de outubro. Ou o
que o partido tentaria emplacar como presidente da Câmara em 2015.
André Vargas
licenciou-se ontem do mandato dizendo-se vítima de um “massacre midiático,
fruto de vazamento ilegal de informações”. Certamente é porque seus planos
falharam. Se tivessem dado certo, a imprensa não teria noticiado suas
falcatruas e o deputado poderia ter mantido seus negócios incrustrados na
máquina do Estado. A engrenagem continua montada e, como não estamos numa
ditadura varguista – o que seria o sonho de gente como o petista ora em
desgraça –, cabe continuar desvendando-a.
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