Depois de dois déficits
gigantescos nos primeiros meses do ano, a balança comercial brasileira teve um
tímido, quase invisível, superávit em março. Trata-se de comportamento
condizente com uma política de comércio exterior que vem isolando o país do
resto do mundo e afetando as perspectivas de desenvolvimento da nossa economia.
O Brasil não pode ser uma ilha.
Em março, o saldo comercial
foi de US$ 112 milhões. É o menor resultado para o mês desde 2001, quando o superávit
foi de US$ 276 milhões. Com este desempenho, o comércio exterior brasileiro
acumulou déficit de US$ 6,07 bilhões no trimestre, o pior número de toda a
série histórica, iniciada há 20 anos.
“O rombo acumulado
neste ano supera em 17% o verificado nos três primeiros meses do ano passado,
quando o saldo negativo de US$ 5,2 bilhões já fora recorde”, registra a Folha de S.Paulo. No total, as exportações caíram 4% no ano até agora. Pesaram
bastante para o mau resultado a queda nas vendas para a Argentina, que diminuíram
14,4% no trimestre, e para a União Europeia, com recuo de 13,5%.
Algum alento deve
vir a partir deste mês, com o início da safra agrícola. Tal janela favorável deve
estender-se até julho. E só. Com isso, a balança comercial brasileira pode
caminhar para seu primeiro déficit em 14 anos, conforme projeções feitas com
base nos fracos resultados deste início de ano. “Estamos claramente com viés de
déficit comercial para este ano”, disse José Augusto de Castro, principal
especialista do país na área, ao Valor Econômico.
Vale lembrar que em 2013
o país já registrara seu pior resultado comercial desde 2000, com superávit de US$
2,5 bilhões. O saldo só não foi negativo, contudo, por causa de manobras
contábeis envolvendo a exportação fictícia de plataformas de petróleo. Nos 12
meses terminados em março, o superávit baixou mais ainda, para apenas US$ 1,6
bilhão – 86% menor que o apurado no mesmo período em 2013 (US$ 11,8 bilhões).
Produtos básicos, as
chamadas commodities, representaram 47% das vendas ao exterior no trimestre. Com
a Petrobras adernando, o principal item desta categoria, as exportações de
petróleo, continua caindo na comparação com o mesmo mês do ano passado,
frustrando as róseas expectativas oficiais. Só em março, a queda, a segunda
consecutiva, foi de 20,4%. Com isso, a chamada conta-petróleo acumula déficit
de US$ 4,5 bilhões no trimestre.
A atrofia do comércio
exterior brasileiro diz muito das escolhas de política econômica deliberadas
por Brasília nos últimos anos. Optou-se por fechar o mercado nacional à concorrência
externa, diminuir a aproximação do Brasil das nações mais dinâmicas e aproximá-lo
de hermanos sul-americanos que hoje estão
naufragando. O resultado não poderia ser mais danoso.
Numa lista divulgada
no início do ano passado, o Brasil aparece como o país mais fechado entre 179
nações, segundo o Banco Mundial. Somos apenas o 25° maior exportador do mundo. Nossas
exportações equivalem a 1,3% do total mundial, muito pouco para a sétima maior
economia global. Nossa participação no comércio mundial é cadente.
O Brasil precisa é
de mais e não menos comércio internacional. Mas a gestão petista tem se
especializado justamente no oposto: em 2013, o Brasil foi, pelo segundo ano
consecutivo, o país que mais adotou medidas protecionistas no mundo, de acordo
com levantamento
da Organização Mundial de Comércio.
O país necessita de
políticas que promovam a integração de nossas empresas nas cadeias globais de
produção. Isso vai gerar mais possibilidades de negócios, ao mesmo tempo em que
abrirá acesso a tecnologias mais avançadas, promovendo a modernização do parque
produtivo local, a redução de custos e a recuperação da nossa combalida
competitividade.
O que assistimos
hoje é o contrário do que o país precisa. As medidas tomadas por Brasília mantêm
claro viés antimercado, são refratárias ao lucro e cerceadoras da iniciativa
privada. Tome-se o exemplo da medida provisória que aumenta a tributação sobre o lucro de
empresas brasileiras no exterior, que está gerando ameaça de transferência das sedes
das nossas poucas multinacionais para fora do país, como informa a Folha
em sua edição de hoje.
O destino do Brasil
não é ser uma nação apequenada, isolada e hostil ao resto do mundo. As opções
equivocadas dos últimos anos estão mostrando-se prejudiciais às perspectivas de
futuro do país. Não merecemos ser tratados como uma ilha, como muitos petistas sonham
que fôssemos – embora até Cuba esteja agora se vendo forçada a se abrir ao
exterior para não sucumbir.
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