O governo petista é
tão truculento e desrespeitoso que consegue transformar até o que deveria ser algo
positivo numa coisa ruim. Sua sanha em apropriar-se daquilo que, na realidade, são
resultados da interação da sociedade suplanta tudo. Foi assim com o marco civil
da internet, votado ontem no Senado.
O texto aprovado é o
mesmo que saiu da Câmara há menos de um mês. Houve apenas alterações de
redação que não modificam o mérito. Assim, determina o regimento do Congresso que
a lei siga diretamente à sanção presidencial, prevista para acontecer ainda
nesta quarta-feira.
Toda esta celeridade
porque a lei votada pelos deputados era perfeita? Não. Tudo isso porque o
governo tinha pressa em ver o texto rapidamente chancelado pelos senadores a
fim de ser brandido como feito próprio numa conferência mundial sobre internet
que começa hoje no Brasil, a NETmundial.
Novamente, os fins
justificam os meios e o governo atropela o Legislativo. A gestão petista e sua
tropa no Congresso tratam com colorações partidárias e eleitorais o que é uma
conquista da sociedade organizada.
A redação do marco
civil começou a nascer em 2009, por meio de um processo colaborativo realizado pela
internet. Em 2011, o Executivo enviou a proposta ao Congresso. Durante quase três
anos o texto foi discutido na Câmara, onde provocou verdadeiros cabos de guerra
entre usuários, operadoras de internet e fornecedores de conteúdo.
O Senado mal teve
tempo de trocar de lugar uma vírgula ou outra do texto aprovado em março pelos
deputados. Com isso, perdeu-se oportunidade de aprimorar a lei e o marco civil sai
pior do que poderia ser, como relata o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP)
em artigo publicado na edição de hoje da Folha de S.Paulo.
Aspectos relacionados
à privacidade e à liberdade de expressão poderiam ter obtido tratamento mais
adequado. Trechos como o parágrafo 3° do artigo 10 deixam margem para que o
governo tenha acesso a dados de usuários prescindindo de permissão judicial. Os
parágrafos 3° e 4° do artigo 19 abrem brecha para censura a conteúdos
publicados na internet.
“Só nos resta
esperar que essa lei, criada para proteger os direitos dos cidadãos, não acabe
virando mordaça ou máquina de vigilância. Que não acabe sendo usada para atacar
os mesmos direitos que se propõe a defender”, analisa Renato Cruz, especializado
em tecnologia, n’O Estado de S. Paulo.
No afã de ver o
texto aprovado, o governo impediu que o texto fosse mais discutido. Usou suas
armas de sempre: o rolo compressor e a barganha desabrida. Informa o Estadão que no balaio entraram negociações
em troca de apoios a aliados em disputas eleitorais regionais. Entende-se quão sincera
era a preocupação do Planalto com o marco...
Os métodos do
Executivo continuam os mesmos e, como regra, buscam transformar o Legislativo
em arena subalterna. Ao governante petista importa menos a discussão com a
sociedade, a transparência e o jogo democrático. O que conta mesmo é a ânsia de
transformar tudo em moeda de troca política e em dividendo eleitoral.
Dilma Rousseff
certamente acredita que, no encontro de hoje com entendidos no assunto, poderá
posar como protagonista de um avanço na governança da internet. Sim, o Brasil
deu importante passo adiante na definição de regras para que a rede mundial não
se transforme num vale-tudo. Mas isso é uma realização de milhões de cidadãos
que querem manter a web como território livre de manipulações e pleno de
direitos. Não é obra do PT.
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