Não há limites para
a interferência do PT e de seus aliados na máquina estatal. Eles têm imensa
dificuldade em separar o que é questão de Estado do que são assuntos de
governo. Para o PT, é tudo um butim a ser conquistado e repartido. O desmonte
de instituições como o IBGE e o Ipea inscreve-se nesta trajetória.
Os problemas nos
dois órgãos vêm se acumulando e atingiram seu ápice na semana passada com a
decisão do IBGE de suspender, até janeiro do próximo ano, a divulgação da Pnad Contínua, que passará a medir
a taxa de desemprego no país.
O anúncio detonou
uma crise entre os profissionais do órgão – duas diretoras pediram demissão e
18 coordenadores e gerentes ameaçam fazer o mesmo – e lançou dúvidas sobre uma
possível manipulação de resultados pelo IBGE.
A Pnad Contínua
passou a ser divulgada em janeiro último e deveria substituir a Pesquisa Mensal
de Emprego (PME) como fonte de cálculo da taxa de desemprego no país a partir
do fim deste ano. Ocorre que a publicação dos primeiros resultados da nova
pesquisa causou desconforto ao Planalto, ao mostrar índices de desocupação mais
altos que os da PME.
Segundo a Pnad
Contínua, a taxa de desemprego no país fechou 2013 em 7,1%, acima, portanto,
dos 5,4% aferidos pela PME. Não dá para dizer que o índice subiu no país,
porque as pesquisas não são comparáveis. Mas dá para afirmar que, tomando-se um
universo maior (a Pnad cobre cerca de 3,5 mil municípios e a PME apenas seis regiões
metropolitanas), o desemprego é maior.
A suspensão da Pnad
Contínua até 2015 deu-se em resposta a requerimento dos senadores Gleisi
Hoffmann (PT-PR) e Armando Monteiro (PTB-PE). Eles sustentam que um dos
cálculos poderia comprometer repasses para os estados. Parece até jogo
combinado: uma pesquisa atrapalha o discurso do governo, senadores governistas
a contestam e o instituto responsável suspende a divulgação dos dados
incômodos.
Infelizmente, o IBGE
não é caso isolado. O descrédito também se abate sobre outro órgão de pesquisas
do Estado brasileiro: o Ipea. Desde a gestão de Marcio Pochmann, a instituição
foi transformada numa fábrica de documentos e teses destinados a embasar e
legitimar o discurso governista. Nunca antes se viu algo parecido no país – mas que já se tornou comum em lugares com a Argentina de Cristina Kirchner.
O Ipea mergulhou em
desgraça ao admitir, na semana passada, erro numa pesquisa que levou o Brasil a
ser notícia no mundo todo por, supostamente, exibir uma intolerável taxa de
machismo. O percentual dos que concordam total ou parcialmente com a ideia de
que mulheres com roupas provocantes devem ser atacadas foi revisto de 65% para
26% – mesmo revisado, continua muito alto e inaceitável, e não nos retira da
deplorável condição.
Ipea e IBGE são
faces de uma mesma moeda: a da ocupação e do desmonte de instituições sérias de
Estado, a fim de convertê-las em aparelhos a serviço de partidos. O IBGE, por
exemplo, sofre com estrutura deficiente, falta de pessoal, orçamento minguado e
recursos rotineiramente contingenciados, como informa hoje o Valor Econômico.
O total de
funcionários do instituto caiu 19% desde 2006, com perda de mais de 1,4 mil
servidores. Do total de 10,3 mil pessoas trabalhando na instituição atualmente,
4,4 mil são temporários, que passaram por período de qualificação e treinamento
muito curto e bastante deficiente. O orçamento sofreu corte de 14% neste ano.
São razões como
estas que estão na raiz das dificuldades para o IBGE levar adiante não apenas pesquisas
como a Pnad Contínua, mas também os novos cálculos da Pesquisa de Orçamento
Familiar e a Contagem da População, atualmente atrasados. A crise compromete a
qualidade das estatísticas, impacta na avaliação e em estudos da conjuntura e
na definição de políticas adequadas à realidade.
O governo do PT dá
de ombros. Acha que basta torturar os números para que eles confessem o que
melhor lhe convém. O que interessa ao petismo é dourar a realidade para que ela
pareça mais conveniente ao seu projeto de perpetuação no poder. Para os
petistas, atropelar e implodir instituições de Estado outrora sérias e
respeitadas é o de menos. Pobre IBGE. Pobre Ipea. Pobre Brasil.
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