O governo petista está
usando todas as ferramentas à sua disposição para tentar evitar a instalação da
CPI da Petrobras. A tática do desespero envolve todo tipo de manobra regimental
no Congresso e contempla até mudanças no ministério da presidente Dilma Rousseff.
É a tropa de choque governista, incluindo seus tratores aloprados, em ação para
impedir o esclarecimento das falcatruas na estatal.
A estratégia
desesperada foi posta em prática depois que as primeiras, e mais grosseiras,
tentativas fracassaram. A arma inicial foi constranger parlamentares que
apoiaram a CPI a voltar atrás e retirar suas assinaturas do requerimento de
instalação. A coerção deu em nada e nenhum dos 29 senadores recuou até agora.
Alguns até dobraram a aposta e manifestaram publicamente que, quanto mais
pressionados, mais convictos ficam da necessidade da apuração.
Ato seguinte, o
governo apelou para a tática de chumbo trocado, pela qual, se é para investigar
a Petrobras, outros episódios também têm que ser apurados. A tentativa era criar
uma CPI que tratasse de vários assuntos ao mesmo tempo, sem correlação entre
eles, num flagrante desvio legal. Foi uma clara manobra para tentar melar o
jogo e deixar tudo como está. Como a oposição não manifestou nenhum receio de
apurar o que quer que seja, os governistas recuaram.
Mas a articulação
anti-CPI não parou aí. A presidente escalou um novo ministro para a pasta de
Relações Institucionais que não deixa dúvidas quanto ao vale-tudo ao qual o
Planalto está se lançando para impedir que a verdade sobre o desmonte
da Petrobras venha à tona. O envolvimento de Ricardo Berzoini – o novo ministro
que toma posse hoje – no episódio dos aloprados, em 2006, mostra o tipo de jogo
que o governo Dilma está disposto a jogar para constranger seus opositores.
No entanto, a cada
movimento diversionista do governo, surgem novas revelações e fatos que reforçam
a necessidade de uma investigação profunda nas entranhas da estatal. O erro na compra
de Pasadena fica cada dia mais evidente, ao mesmo tempo em que as supostas boas
intenções de levar apurações no âmbito interno do governo adiante desnudam os
limites das investigações chapa branca.
A administração da
refinaria de Pasadena era uma “bagunça” só, segundo visão dos sócios belgas da
Astra divulgada no sábado pela Folha de S.Paulo. A governança frouxa que a Petrobras exercia sobre o negócio
bilionário já tinha ficado explícita nos últimos dias, com Graça Foster dizendo
que não sabia de estruturas paralelas previstas em contrato e Nestor Cerveró
agindo livremente para inflar os valores que a estatal pagou pelo
negócio.
Hoje, O Estado de S. Paulo mostra que a balbúrdia não era fortuita e que, muito
provavelmente, o negócio continha interesses escusos impostos a partir do Rio
pela cúpula da Petrobras, à época chefiada por José Sérgio Gabrielli e com Dilma
Rousseff na presidência do seu conselho de administração.
Presidente da
Petrobras América entre 2007 e 2008, o engenheiro Alberto Guimarães se opôs à
proposta da estatal de comprar 100% da refinaria de Pasadena e se mostrou
preocupado com o alto valor oferecido à Astra. Mas parece ter sido forçado a
seguir adiante: “Ordens são ordens”, escreveu num e-mail datado de setembro de
2007. Um ano depois, Guimarães estava fora do cargo, substituído por José
Orlando Azevedo, primo de Gabrielli.
As razões de
Guimarães aparecem em outra troca de e-mails, desta vez entre os diretores da
Astra, revelada pela Folha:
a Petrobras estava prestes a pagar pelo negócio mais do que os próprios belgas
julgavam adequado. “Não ficaria surpreso se eles descobrirem que a refinaria
não vale os US$ 650 milhões que ofereceram. Como referência, a ‘put’ [opção de
compra em caso de conflito] está valendo cerca de US$ 550 milhões”, escreveu o
presidente da Astra, Mike Winget, em novembro de 2007.
Por meio de Cerveró,
então diretor da área internacional, a Petrobras oferecera US$ 787,7 milhões
pelos 50% restantes da refinaria. A oferta foi barrada pelo conselho da estatal
em 2008, mas, quatro anos depois, a companhia brasileira viu-se condenada por
um comitê de arbitragem americano a pagar US$ 820,5 milhões aos belgas pelo
negócio.
A soma dos episódios
revela que a má gestão era – e provavelmente continua a ser – a tônica na Petrobras.
É razão de sobra para que a CPI avance. Até porque, ao contrário do que
sustenta o governo, as iniciativas de investigação interna da Petrobras não têm
chance de dar em nada, como ficou claro agora com a conclusão da apuração da
suspeita de suborno de funcionários da empresa pela holandesa SBM Offshore.
Em nota
divulgada ontem, a Petrobras afirma que “não encontrou fatos ou documentos que
evidenciem pagamento de propina a seus empregados”. Ressaltou, porém, que as
conclusões se baseiam em trabalhos “restritos a sua competência regulamentar”. Ocorre
que a Petrobras levou 45 dias para não achar nada, enquanto a holandesa SBM Offshore
está investigando o caso desde 2012 e ainda não chegou a conclusão definitiva. Mais
uma razão – e elas são cada vez maiores – para a CPI funcionar.
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