Luiz Inácio Lula da
Silva já foi personagem importante da democracia brasileira. Participou de
momentos cruciais da história do país e liderou causas populares relevantes.
Mas, desde que passou a se julgar acima do bem e do mal, o ex-presidente da
República tem se especializado em afrontar nosso sistema democrático. Por que não
te calas, Lula?
Lula verbaliza, de certa
forma, a visão de mundo do PT: Se não estão conosco, estão contra nós. Serve
para pessoas, adversários políticos, comentaristas e, principalmente,
instituições. Os petistas não convivem bem com o contraditório, não aceitam a
adversidade e, não raro, optam pela oposição desabrida quando não estão por
cima da carne seca.
O ex-presidente
vinha se furtando a comentar os resultados do julgamento do mensalão, que levou
à cadeia algumas das mais vistosas lideranças do PT, entre elas o ex-ministro
José Dirceu, preso na penitenciária da Papuda em Brasília desde novembro. Mas aproveitou
uma entrevista concedida em Lisboa para desfilar impropriedades sobre o tema.
À emissora de TV portuguesa
RTP, Lula disse
que a decisão do Supremo Tribunal Federal sobre o maior esquema de corrupção da
história política do país teve “80% de decisão política e 20% de decisão
jurídica”. “O que eu acho é que não houve mensalão. (...) Essa história vai ser
recontada”, completou.
Curiosa a dosimetria
de Lula. Talvez espelhe como ele vê a relação entre os poderes e como gostaria
que a independência – no caso, a falta dela – fosse exercida. Lula indicou 8
dos 11 atuais ministros integrantes do Supremo. Decerto esperava que, uma vez instalados
na mais alta corte de Justiça do país, atuassem como simpatizantes partidários.
Torpe visão.
A declaração de Lula
mereceu repúdio quase unânime. Foi recebida como a manifestação de alguém que
não reconhece a importância do Judiciário, desmerece a Justiça e não aceita as
regras da convivência democrática. O ex-presidente dá péssimo exemplo a um país
que clama, urgentemente, pela recuperação da crença em suas instituições em
prol de um futuro melhor que o tempo de desesperança pelo qual atravessa.
Lula parece se
sentir ainda mais à vontade quando está fora do Brasil para emitir suas
opiniões. Mas continua a eterna metamorfose ambulante que já admitiu ser. Basta
lembrar que, em julho de 2005, menos de dois meses após Roberto Jefferson
detonar o mensalão, ele mesmo admitira, numa entrevista em Paris, que o PT
errara. Logo depois, foi além e pediu desculpas à nação. Qual visão é a que
vale?
Quando deixou a
presidência, se achando quase convertido em santo, Lula mudou de ideia e disse
que iria dedicar-se a “desmontar a farsa do mensalão”. O tempo passou, o STF
julgou o caso e os petistas foram parar na cadeia por crimes como corrupção e
lavagem de dinheiro – apenas na revisão final, escaparam da condenação por formação
de quadrilha. Lula jamais apresentou quaisquer elementos para comprovar a “farsa”.
Também depois de
sair do Planalto, o petista disse que ensinaria a ex-presidentes como deveria
ser o comportamento exemplar de quem deixa o posto mais importante da República.
Nunca, porém, conseguiu “desencarnar” do cargo, como ele mesmo prometia. Continua
agindo como tutor da atual mandatária e como comentarista do Brasil. Mantém-se
influente em negócios – não raro suspeitos – dentro e fora do país.
Lula tem todo o
direito de se manifestar, como qualquer brasileiro. Deveria, porém, ter mais
responsabilidade com o que faz e diz. Suas sectárias declarações apenas ajudam
a semear descrença e discórdia. Talvez, quem sabe, seja este, afinal, seu
objetivo: detonar tudo aquilo que não esteja com o PT para justificar o
vale-tudo que seu partido promove no exercício do poder. Calado, Luiz Inácio
Lula da Silva faria bem melhor pelo Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário