Não bastou o vexame
que a preparação para a Copa do Mundo que começa daqui a 61 dias está fazendo o
Brasil passar. A lição não parece ter sido aprendida e os atrasos se repetem também
nas obras e nos preparativos para as Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro. Será
que seremos sempre a terra do improviso e da malversação do dinheiro público?
O Comitê Olímpico Internacional
(COI) determinou ontem uma intervenção na organização dos jogos que acontecerão
daqui a pouco mais de dois anos na capital fluminense. A situação do Brasil
surge como mais crítica que a de Atenas, que, em 2000, quatro anos antes das
suas Olimpíadas, recebeu “cartão amarelo” dos organizadores. Nesta semana, 17 entidades
esportivas criticaram o andamento da preparação brasileira.
Com as iniciativas anunciadas
ontem, o COI será uma espécie de bedel do Brasil na organização das Olimpíadas.
Contratará, por exemplo, um administrador de projetos para acompanhar
diariamente as obras no Rio, “algo inédito em um evento olímpico”, segundo O Estado de S. Paulo.
Desde sua sede lá na
Suíça, o COI também cuidará de criar um comitê organizador e designará um de
seus dirigentes para vir frequentemente ao Rio a fim de “controlar a situação”.
Mesmo assim, a capital fluminense ainda corre risco – embora muitíssimo remoto –
de deixar de sediar os jogos de 2016. Uma das possibilidades é transferir
algumas modalidades para outros locais.
Alguns anos atrás, o
Brasil vivia clima de euforia com a perspectiva de abrigar, quase
simultaneamente, dois eventos esportivos de proporções globais. Parecia até o despertar de uma nova era. Quase nada do que se
projetou à época, porém, aconteceu.
Basta olhar em volta e constatar que os benefícios que adviriam da Copa não se materializaram. Andar nas ruas e verificar que o impulso que o torneio daria à economia e à melhoria de vida das pessoas não se confirmou. Decepção parecida ronda a preparação das Olimpíadas.
Basta olhar em volta e constatar que os benefícios que adviriam da Copa não se materializaram. Andar nas ruas e verificar que o impulso que o torneio daria à economia e à melhoria de vida das pessoas não se confirmou. Decepção parecida ronda a preparação das Olimpíadas.
O Rio foi escolhido sede
em 2 de outubro de 2009 – há, portanto, quatro anos e meio. Mas obras
importantes para o evento, que acontecerá em agosto de 2016, mantêm-se apenas como
imensos canteiros empoeirados. O caso mais dramático é o do parque olímpico de Deodoro,
que abrigará nove modalidades esportivas, mas até agora não teve sequer licitação
lançada. As condições das águas da Baia de Guanabara são outro problema sério.
Ocorre que, até
hoje, faltando 847 dias para as Olimpíadas, ainda não foi definida a matriz de
responsabilidades, que estabelece o rol de obras e, mais importante, quem vai
pagar cada uma delas. Parte central do processo, o governo federal tem adiado a
definição dos orçamentos. “A maior bolada, sem dúvida, deve sair dos cofres
públicos, ou seja, do bolso do contribuinte”, arrisca, sem chance de errar, a Folha de S.Paulo.
Na terra do
improviso, a saída preferencial tem sido apelar para o liberou geral. À falta
de eficiência para bem planejar, bem gerir e bem executar projetos e obras, optou-se
por afrouxar as amarras legais e por dificultar a fiscalização dos órgãos de
controle. É o que está acontecendo neste momento com a disseminação da adoção
do Regime Diferenciado de Contratação (RDC) para contratação e execução de obras
públicas.
Sugerido pelo
governo petista inicialmente para agilizar as obras relacionadas à Copa e às Olimpíadas,
o RDC já abarca ações do PAC e agora está prestes a ser estendido a todo e
qualquer empreendimento contratado pelo poder público. Na quarta-feira, medida
provisória neste sentido, relatada pela senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), foi aprovada
na Câmara, sob protestos
da oposição. Está aberta a porta para orçamentos sigilosos, contratações
integradas e, ao cabo, para o estabelecimento de relações escusas entre
contratante e contratado.
Infelizmente, a Copa
do Mundo e as Olimpíadas não legarão aos brasileiros o que lhes foi prometido:
melhorias nos serviços e nas estruturas urbanas que facilitassem a mobilidade e
aumentassem o conforto de quem vive nos grandes centros. Pior que isso, na premência
de tentar evitar um vexame definitivo, os grandes eventos esportivos deixarão
de herança um regime de vale-tudo por onde escorrerá o dinheiro do
contribuinte.
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