quarta-feira, 3 de abril de 2013

A balança desequilibrou

Mais um importante indicador divulgado ontem mostra as dificuldades que atravessa a economia brasileira. A balança comercial do país registrou o pior resultado para um primeiro trimestre em 20 anos. O Brasil importa cada vez mais e exporta cada vez menos, numa clara indicação de que está perdendo competitividade.

Entre janeiro e março, a balança comercial brasileira exibiu déficit de US$ 5,2 bilhões. Desde 2001, o saldo não ficava negativo neste período do ano e jamais, desde o início da série histórica, em 1993, o rombo fora tão acentuado. Para se ter ideia, no mesmo período um ano atrás, o país alcançara superávit de US$ 2,4 bilhões. É mais um dos estragos que o governo do PT está produzindo na economia do país.

O Brasil enfrenta dificuldades crescentes para colocar seus produtos no mercado externo. Nestes três meses, nossas exportações caíram 7,8% em comparação com o mesmo período de 2012. Na outra ponta, as importações cresceram 6,2%. (Quando se considera a média diária, houve queda de 3,1% e aumento de 11,6%, respectivamente.)

Quem mais vê seus espaços sendo reduzidos são nossos produtos manufaturados, cujas exportações caem 3,6% no ano. O Brasil está perdendo nacos crescentes de mercados importantes, como o dos Estados Unidos e o da Argentina. No trimestre, nossas exportações para os norte-americanos caíram 20% e para os argentinos, 5,9%.

Parte dos maus resultados do trimestre deriva da manipulação contábil de operações de importação de petróleo realizadas pela Petrobras no ano passado, mas só agora computadas nas estatísticas de comércio exterior. A maquiagem buscou livrar o resultado comercial do país em 2012 de uma queda – que chegou a 35% – ainda mais acentuada. De US$ 4,5 bilhões, ainda falta contabilizar US$ 1,8 bilhão, propagando os efeitos negativos da medida por mais alguns meses.

Numa leitura mais geral, a balança comercial brasileira está cada vez mais dependente das divisas geradas pelo agronegócio, enquanto bens duráveis e não duráveis, petróleo e derivados e bens de capital estão levando nossos dólares embora, conforme avalia um analista da GO Associados ouvido pelo Valor Econômico.

Segundo esta projeção, o agronegócio deve contribuir com superávit de cerca de US$ 70 bilhões em 2013 (foram US$ 79 bilhões no ano passado), enquanto os bens de consumo devem ter déficit de cerca de US$ 5 bilhões e os bens de capital, saldo negativo de US$ 47 bilhões.

O mais preocupante é que, como se vê diariamente em portos, estradas e hidrovias do país, nossas exportações agrícolas enfrentam dificuldades crescentes. A logística caquética já nos rendeu o cancelamento de embarques de soja equivalentes a 5% do que prevíamos exportar. Os custos ascendentes dos fretes deverão comer pelo menos US$ 4 bilhões dos ganhos com as vendas de cereais ao exterior, segundo a Folha de S.Paulo.

As projeções para o comércio exterior brasileiro neste ano são cadentes. Ontem, o Boletim Focus do Banco Central mostrou que a média das expectativas de mercado é de um saldo, ainda positivo, de US$ 12,4 bilhões. O mergulho nos prognósticos foi rápido: há apenas um mês, a previsão era de superávit de US$ 15 bilhões.

No ano passado, o país registrou saldo positivo de US$ 19,4 bilhões. Mas até o Ministério da Fazenda já não descarta que o resultado deste ano caia à metade, segundo O Estado de S.Paulo. A se confirmarem os prognósticos, retrocederemos ao patamar mais baixo em 12 anos – vale lembrar que o país chegou a ter superávit comercial de US$ 45 bilhões, em 2005. Há quem veja riscos de “déficit estrutural” na balança no médio prazo em função da alta persistente nas compras de petróleo. O chão é o limite.

A balança comercial é apenas uma das faces mais palpáveis da deterioração que começa a acometer as contas externas brasileiras. Neste início de ano, os investimentos estrangeiros diretos (IED) também tornaram-se insuficientes para cobrir o déficit em transações correntes: para um rombo de US$ 18 bilhões até fevereiro, o IED somou apenas US$ 7,5 bilhões. Há um ano, o déficit fora de US$ 8,8 bilhões e os investimentos, de US$ 9,1 bilhões.

Ao mesmo tempo em que o resto do mundo caminha em busca de maior produtividade e competividade, o Brasil vai em direção contrária. Nossos produtos são caros, o custo do trabalho, ascendente e as condições de infraestrutura, inadequadas. O comércio exterior foi uma das alavancas da economia brasileira nas últimas décadas. Sem conseguir competir, o país corre risco de matar sua galinha dos ovos de ouro. 

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