O país caminha hoje
no fio da navalha em termos de disponibilidade energética. Nunca dependemos
tanto das caras e poluentes usinas termoelétricas e até poderemos ser forçados
a voltar a usar o fuliginoso carvão para levar eletricidade para residências,
comércio e indústrias. Para complicar, a expansão dos bem-vindos parques
eólicos também claudica.
A oferta está
apertada. Em números gerais, que a Aneel divulga sistematicamente, praticamente
metade (48%) da energia prevista para entrar em operação em 2014, ano da Copa
do Mundo, enfrenta impedimentos. São entraves de ordem legal, operacional e/ou
ambiental. Há atrasos nas obras de geração (construção de novas usinas),
transmissão e distribuição.
“Dos 80 principais
projetos do país previstos para o período de 2013 a 2015, 53, ou 66%, estão com
atrasos. Além disso, 27% das obras consideradas obrigatórias nas 12 cidades que
vão sediar os jogos [da Copa] não serão concluídas no prazo previsto”, resumiu o
jornal O Globo em reportagem publicada na semana passada.
Uma das consequências
é o aumento da possibilidade de faltar energia no país. Segundo levantamento
publicado pelo jornal, com os atrasos e o insuficiente ritmo de obras, o risco
de um racionamento em 2014 atinge 9% ou quase o dobro da média histórica com a
qual o setor energético brasileiro está acostumado a conviver.
O governo federal se
apressou em desacreditar estes prognósticos, e anteontem a presidente da
República dobrou a aposta, quando participava de mais um dos inflamados
encontros petistas. Para ela, não passam de “pessimistas” os que receiam do que
pode acontecer com a disponibilidade de energia no país nos próximos meses.
Dilma Rousseff
confunde preocupação legítima com crítica destrutiva, talvez porque assim era
quando seu partido militava na oposição. Os alertas, seja de seus adversários
políticos, seja de analistas independentes, servem justamente para tentar evitar
que o pior aconteça. Mas, de cima do palanque em que subiu há uns cinco anos e
de onde nunca mais saiu, a presidente, infelizmente, não enxerga isso.
Mas basta ter olhos
para deparar-se com motivos de sobra para apreensão. Vejamos, por exemplo, o
que está acontecendo com a geração eólica no país, para tomar o pulso dos
descaminhos.
Nos últimos anos, a produção
nacional de energia a partir dos ventos ganhou força, com mérito para o governo
petista – que soube aproveitar a queda dos custos no mundo gerada pelo excesso de
oferta dos outrora caríssimos equipamentos para esta área. Ocorre que parte dos parques eólicos hoje instalados no país não gera um mísero megawatt, simplesmente porque não dispõe
de linhas de transmissão para escoar a energia.
Atualmente, há 622
MW parados à espera de linhões, o que representa 25% da capacidade eólica disponível no Brasil. Mas o volume inoperante de energia gerada a partir dos ventos pode
mais que dobrar até o fim deste ano, chegando a 1,3 mil MW, segundo a agência
especializada Canal Energia.
As deficiências na
expansão do parque eólico apenas complicam um pouquinho mais a já crítica
oferta de energia no país. A Folha de S.Paulo informa hoje que o país chegará à Copa de 2014 com seus
reservatórios no limite do limite . Como já
estamos queimando tudo o que as termoelétricas podem gerar – com custos
adicionais de R$ 400 milhões para os consumidores ao mês – um pouquinho menos
de chuva ao longo deste ano pode ser catastrófico.
Um último aspecto a
considerar é a depauperada situação a que foram levadas as empresas do setor elétrico
brasileiro, a partir da revisão intempestiva de seus contratos de concessão
feita em fins de 2012. No ano passado, segundo a consultoria Economática, o
lucro delas caiu 61%, fazendo evaporar R$ 12 bilhões. Obviamente, sua
capacidade de investir e expandir a oferta de energia no país restou bastante comprometida.
O Brasil exibe um
imenso potencial de geração hídrica, vem investindo em novas fontes, mas
depara-se com um dramático descasamento entre o que o país precisa consumir e a
capacidade que tem de produzir energia. Ser quixotescamente otimista não é atitude
que colabore para enfrentar tamanho desafio.
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