Como quem observa a caravana
passar, a gestão petista foi vendo os preços escalarem no país, sem ladrar. Desde
junho do ano passado, a inflação acumulada em 12 meses veio subindo, até que,
em março, ultrapassou o teto da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional.
Neste ínterim, o governo da presidente Dilma Rousseff só olhou.
Aos poucos, a
aceleração dos preços foi ficando incômoda. Primeiro, minou o ímpeto dos
investidores e dos empresários. Se o governo do país não se importa com a
inflação, como acreditar na saúde e no futuro de sua economia? Depois, começou
a afetar a confiança dos consumidores, ressabiados com a carestia que viam nas
gôndolas, mas na qual ainda se recusavam a crer. E o governo só olhando...
Os efeitos foram,
então, se disseminando por toda a chamada economia real: serviços, alimentos,
combustíveis, bens de consumo. Tudo foi ficando pela hora da morte, deixando as
pessoas cada vez mais assustadas. O Brasil tornou-se um país muito caro, os preços
não param de subir e a dificuldade para sobreviver apresenta-se com todas as suas
cores escuras. Os supermercados começaram a esvaziar.
Agora, até o consumo,
que ao longo dos últimos anos funcionou como motor do crescimento econômico (aquele
que não existiu nos anos Dilma), sente o baque. Em pesquisa divulgada
ontem, o IBGE mostrou que as vendas do comércio varejista caíram 0,4% em
fevereiro na comparação com janeiro passado e 0,2% sobre fevereiro de 2012, no
primeiro resultado negativo desde novembro de 2003, ou seja, em quase dez anos.
Num reflexo direto
da escalada de preços (subiram 13,5% em um ano), alimentos e bebidas estão
entre os itens que tiveram as maiores quedas de consumo. “A demanda está
diminuindo porque o preço está subindo”, resumiu uma técnica do IBGE. Sua
lógica linear e cristalina deveria ser incutida na cabeça dos comissários
petistas; até obviedades assim, eles têm dificuldade de compreender.
O governo petista vem
tratando a inflação como se fosse uma febrezinha ou uma virose (afinal,
qualquer mal-estar hoje é uma virose...). Ministrou-lhe umas dipironas, uns
antitérmicos, mas o bicho continuou lá, fazendo estragos no organismo, sem ser
incomodado. Medicado à base de placebo e paliativo, foi virando doença crônica.
Tornou-se um monstrão.
A inflação
brasileira está alta e é bem maior do que em países como Chile (1%), Colômbia (1,8%),
México (3,6%), EUA (2%) ou mesmo da zona do euro (1,7%). Nosso índice geral acumula
aumento de 6,59% nos últimos 12 meses e já há um bom tempo não se comporta como
o Banco Central prometeu que se comportaria.
Com isso, o
comportamento dos agentes econômicos, agora mais especificamente dos
consumidores, também foi sendo afetado. A inflação em alta, sem a
correspondente vigilância do governo, foi elevando nas pessoas o receio de
consumir, diminuindo-lhes o ímpeto de investir e incutindo-lhes a expectativa
de que pior do que está pode ficar.
Olhando para o
futuro com ceticismo e vendo que o governo mal se importa se os preços
continuam subindo mais do que a meta com havia se comprometido, o ressabiado consumidor
incorporou as más expectativas ao seu comportamento. Percebeu que a inflação
decolou e mudou de patamar, para pior, e assumiu atitude que termina por jogar gasolina
na fogueira da carestia.
Está acontecendo o óbvio:
inflação aleija, estropia o consumo, mutila a capacidade de produzir. A consequência
é ainda mais óbvia: golpeada pela alta disseminada dos preços, a atividade econômica
padece. Como, aliás, mostrou a prévia do PIB divulgada
nesta manhã pelo Banco Central, apontando queda – mais uma – de 0,52% na
atividade econômica em fevereiro.
Depois de desdenhar
da inflação, insistir em profilaxias equivocadas (como desonerações discricionárias
e reduções tarifárias artificiais), aferrar-se a visões ultrapassadas e agir a
esmo, ao governo Dilma resta agora como única arma o aumento dos juros – que,
por sua vez, tente a esfriar um pouco mais o consumo e a manietar um tanto mais
o já trôpego crescimento do país. É o beco sem saída no qual a gestão petista, que
não entendeu o mal maior que a perda da estabilidade da moeda representa, se meteu
e do qual não sabe como escapar.
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