sábado, 13 de abril de 2013

A carestia real

Os petistas sempre encararam a inflação como um mal menor. No governo, continuaram a tratá-la como se fosse assunto do interesse apenas de iniciados, do “mercado” ou de obsessivos por percentuais e vírgulas. Desdenharam do principal: quem mais perde com a alta generalizada de preços são os mais pobres. A inflação é a mais perversa das formas de injustiça social.

Como quem observa a caravana passar, a gestão petista foi vendo os preços escalarem no país, sem ladrar. Desde junho do ano passado, a inflação acumulada em 12 meses veio subindo, até que, em março, ultrapassou o teto da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional. Neste ínterim, o governo da presidente Dilma Rousseff só olhou.

Aos poucos, a aceleração dos preços foi ficando incômoda. Primeiro, minou o ímpeto dos investidores e dos empresários. Se o governo do país não se importa com a inflação, como acreditar na saúde e no futuro de sua economia? Depois, começou a afetar a confiança dos consumidores, ressabiados com a carestia que viam nas gôndolas, mas na qual ainda se recusavam a crer. E o governo só olhando...

Os efeitos foram, então, se disseminando por toda a chamada economia real: serviços, alimentos, combustíveis, bens de consumo. Tudo foi ficando pela hora da morte, deixando as pessoas cada vez mais assustadas. O Brasil tornou-se um país muito caro, os preços não param de subir e a dificuldade para sobreviver apresenta-se com todas as suas cores escuras. Os supermercados começaram a esvaziar.

Agora, até o consumo, que ao longo dos últimos anos funcionou como motor do crescimento econômico (aquele que não existiu nos anos Dilma), sente o baque. Em pesquisa divulgada ontem, o IBGE mostrou que as vendas do comércio varejista caíram 0,4% em fevereiro na comparação com janeiro passado e 0,2% sobre fevereiro de 2012, no primeiro resultado negativo desde novembro de 2003, ou seja, em quase dez anos.

Num reflexo direto da escalada de preços (subiram 13,5% em um ano), alimentos e bebidas estão entre os itens que tiveram as maiores quedas de consumo. “A demanda está diminuindo porque o preço está subindo”, resumiu uma técnica do IBGE. Sua lógica linear e cristalina deveria ser incutida na cabeça dos comissários petistas; até obviedades assim, eles têm dificuldade de compreender.

O governo petista vem tratando a inflação como se fosse uma febrezinha ou uma virose (afinal, qualquer mal-estar hoje é uma virose...). Ministrou-lhe umas dipironas, uns antitérmicos, mas o bicho continuou lá, fazendo estragos no organismo, sem ser incomodado. Medicado à base de placebo e paliativo, foi virando doença crônica. Tornou-se um monstrão.

A inflação brasileira está alta e é bem maior do que em países como Chile (1%), Colômbia (1,8%), México (3,6%), EUA (2%) ou mesmo da zona do euro (1,7%). Nosso índice geral acumula aumento de 6,59% nos últimos 12 meses e já há um bom tempo não se comporta como o Banco Central prometeu que se comportaria.

Com isso, o comportamento dos agentes econômicos, agora mais especificamente dos consumidores, também foi sendo afetado. A inflação em alta, sem a correspondente vigilância do governo, foi elevando nas pessoas o receio de consumir, diminuindo-lhes o ímpeto de investir e incutindo-lhes a expectativa de que pior do que está pode ficar.

Olhando para o futuro com ceticismo e vendo que o governo mal se importa se os preços continuam subindo mais do que a meta com havia se comprometido, o ressabiado consumidor incorporou as más expectativas ao seu comportamento. Percebeu que a inflação decolou e mudou de patamar, para pior, e assumiu atitude que termina por jogar gasolina na fogueira da carestia.

Está acontecendo o óbvio: inflação aleija, estropia o consumo, mutila a capacidade de produzir. A consequência é ainda mais óbvia: golpeada pela alta disseminada dos preços, a atividade econômica padece. Como, aliás, mostrou a prévia do PIB divulgada nesta manhã pelo Banco Central, apontando queda – mais uma – de 0,52% na atividade econômica em fevereiro.

Depois de desdenhar da inflação, insistir em profilaxias equivocadas (como desonerações discricionárias e reduções tarifárias artificiais), aferrar-se a visões ultrapassadas e agir a esmo, ao governo Dilma resta agora como única arma o aumento dos juros – que, por sua vez, tente a esfriar um pouco mais o consumo e a manietar um tanto mais o já trôpego crescimento do país. É o beco sem saída no qual a gestão petista, que não entendeu o mal maior que a perda da estabilidade da moeda representa, se meteu e do qual não sabe como escapar.

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