Na sexta-feira, a Procuradoria
da República no Distrito Federal pediu
à Policia Federal a abertura de inquérito para investigar a participação de
Lula no mensalão. É a primeira vez que será apurada a atuação do então
presidente da República no maior esquema de corrupção que se tem notícia na
história política do país.
A investigação tem
por base acusações feitas por Marcos Valério, condenado a mais de 40 anos de
cadeia pelo STF. Após analisar depoimento dado pelo operador do mensalão ao MP seis
meses atrás, os promotores decidiram abrir seis procedimentos criminais. Um
deles foi transformado em inquérito.
O pedido de abertura
de inquérito refere-se a suposto repasse de US$ 7 milhões da Portugal Telecom para
o PT, por meio de contas bancárias no exterior. Segundo Valério, Lula teria negociado
a falcatrua com o então presidente da empresa, Miguel Horta. Tudo dentro do
Palácio do Planalto e ainda com a participação do então ministro da Fazenda,
Antonio Palocci.
No depoimento de 13
páginas, dado em 24 de setembro do ano passado, Valério dizia mais. Na ocasião,
o operador do mensalão afirmou, também, que Lula não apenas sabia de todo o
esquema de compra de apoio parlamentar por meio de desvio de recursos públicos,
como também teve despesas pessoais pagas com o dinheiro sujo do valerioduto.
A reação dos
petistas à decisão do MP foi a de praxe: ninguém pode querer atingir o
intocável Lula. Sobre as acusações propriamente ditas, nenhuma palavra. O Instituto
Lula afirmou, em nota, que a decisão do MP não traz “nova informação” em
relação ao que já se sabia desde que Valério decidiu abrir a boca. Digamos que,
ainda que velha, a acusação é suficiente para escandalizar qualquer país sério
e ensejar atuação enérgica da Justiça.
Talvez o maior temor
dos petistas seja justamente o que ainda não foi revelado. As digitais de Lula
podem estar em muito mais lugares do que se pôde supor até agora – não custa
lembrar que a CPI dos Correios já identificara repasse de R$ 98,5 mil de uma
das firmas de Valério para uma empresa de Freud Godoy, faz-tudo de Lula, em
janeiro de 2003. Cabe à PF aprofundar a investigação e descobrir a veracidade
por trás das suspeitas.
Na reta final do
julgamento do mensalão, os petistas têm se esmerado em tentar melar o jogo de
todas as formas. São, entre outros, pedidos de protelação de prazos e ameaças de
recorrer à Corte Interamericana de Direitos Humanos para rever as decisões do
Supremo. O esperneio e o choro são livres, mas os ministros do STF não
arredaram pé um milímetro de suas convicções.
O PT tem enorme
dificuldade de conviver com adversidades. Quando elas se interpõem no caminho
do partido, seus próceres vituperam as instituições, atacam reputações e arregimentam
seus exércitos do submundo da política, dos movimentos sociais e da internet
para reagir. Melhor seria se convivessem serenamente com o Estado democrático
de direito.
Numa república
séria, numa democracia madura, num ambiente em que a sociedade e seus valores
são respeitados, ninguém pode estar livre dos rigores da lei. A folha corrida
de suspeitas acumuladas contra Luiz Inácio Lula da Silva não permite que os
petistas o considerem acima do bem e do mal. Mas a justiça pode até demorar um
pouquinho, mas chega. Agora, é a vez de Lula.
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