quinta-feira, 4 de abril de 2013

Mais um tombo da indústria

O que explica a indústria brasileira viver atualmente um momento tão ruim quanto o que amargou no auge da crise econômica global, quase cinco anos atrás? O Brasil está se especializando em produzir más notícias na economia e começa a se destacar negativamente frente aos demais países. Parece evidente que estamos no rumo errado, persistindo num modelo que se esgotou.

Depois dos péssimos resultados da balança comercial no primeiro trimestre, ontem foi a vez das más notícias da indústria. A produção do setor teve queda de 2,5% em fevereiro na comparação com o mês anterior, na maior retração desde dezembro de 2008, quando o mundo estava mergulhado numa recessão feia.

A queda praticamente anula a reação que a indústria brasileira ensaiara em janeiro. Ficou evidente que a alta de 2,6% registrada no primeiro mês do ano – vendida pelo discurso oficial como evidência inequívoca de que o país agora iria engrenar de vez – deveu-se a fatores circunstanciais, como a alta da produção de caminhões e a recomposição de estoques.

Dos 27 segmentos da indústria acompanhados pelo IBGE, 15 registraram retração – o dado positivo é que a produção de bens de capital aumentou pelo segundo mês. As maiores quedas foram de bens de consumo duráveis e não duráveis, entre eles automóveis, mobiliário e eletrodomésticos da linha branca. Trata-se de indicação de que, exauridos os efeitos benéficos da redução de impostos, como o IPI, a produção industrial não consegue se sustentar.

Segundo o Valor Econômico, nos setores de bens intermediários e de bens de consumo duráveis o percentual de indústrias que ainda consegue expandir sua produção já está abaixo da média dos últimos dez anos. Ou seja, com o PT, o setor secundário da nossa economia só retrocede.

A indústria da transformação representa hoje uma parcela ínfima da produção de bens e serviços do país. Em 2012, ela recuou para 13,3% do PIB, no menor patamar desde os anos JK. Não custa lembrar que, apenas oito anos atrás, em 2004, o segmento representava 19,2% do PIB e desde então só mergulhou.

O vai e vem da indústria brasileira neste início de ano sugere que a tão aguardada, e igualmente propalada pelo governo, retomada da economia ainda não se confirmou. Numa economia que estivesse se recuperando, o esperado seria que produção industrial se acomodasse depois de um resultado forte, como foi o de janeiro, e não devolvesse toda a alta, como acabou acontecendo em fevereiro.

Se existe, a recuperação em curso está longe, muito longe de ser vigorosa. Na indústria especificamente, o avanço é “lento e bastante claudicante”, segundo análise da LCA Consultores citada por O Globo. Há uma espessa nuvem de incertezas no horizonte.

Tudo considerado, há um acúmulo de resultados ruins pipocando na economia brasileira. Inclui uma inflação alta e teimosa, para a qual o governo petista reserva tolerância sem fim – apesar das juras em contrário reiteradas ontem por Alexandre Tombini. Passa pela descrença crescente de empresários e investidores na solidez do país. E agora atinge também as expectativas dos consumidores, cujo índice de confiança medido pela FGV cai há seis meses.

Não há mais crise global que justifique um comportamento tão ruim do Brasil. O problema é interno e só o governo petista não vê, preferindo enxergar fantasmagóricos fatores externos que não existem. Além disso, insiste numa receita equivocada, que privilegia a expansão da demanda quando o problema está evidentemente na oferta insuficiente de bens e serviços.

Nos últimos dois anos e meio, o governo Dilma Rousseff dedicou-se a lançar freneticamente pacotes de incentivo. Foram 15 até hoje e mais deverão vir. Trata-se de uma política de remendos e improvisos que não tem se mostrado bem-sucedida. Insistir num caminho equivocado servirá apenas para produzir uma notícia ruim por dia, formando um deplorável conjunto da obra. 

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