Dilma estará hoje em
Salvador para a festa de inauguração do novo estádio da Fonte Nova. Será sua
nona viagem à região só neste ano e a 48ª desde o início de seu governo,
conforme levantamento da Folha de S.Paulo. A cada duas viagens que fez pelo país desde janeiro último, uma teve o
Nordeste como destino.
Mais o calendário
eleitoral se aproxima, mais a presidente multiplica suas idas aos estados
nordestinos. Vai à cata de votos. Na terça-feira, esteve em Fortaleza, onde
anunciou mais um “pacote” de ajuda aos municípios da região castigados pela
seca. Feito o anúncio, pôde-se perceber que, na realidade, ele trazia um monte
de intenções recicladas e medidas velhas.
Os R$ 9 bilhões propagandeados
juntam, num mesmo balaio, manutenção de benefícios, verbas já empenhadas e
recursos carimbados que já iriam, de alguma forma, para o Nordeste. Em ritmo de
campanha, o que interessa à presidente é produzir cifras portentosas; benefícios
reais para a população são o de menos.
Um terço do “pacote”
refere-se ao que o governo federal deixará de arrecadar com a renegociação de
dívidas de agricultores. Mais 23% vêm do PAC Equipamentos, lançado ainda no ano
passado, destinando retroescavadeiras e motoniveladoras às prefeituras. E outros
17% são renúncias de recursos que, de qualquer forma, seriam reservados à
região por meio de fundos constitucionais, conforme cálculos d’O Estado de S.Paulo.
O governo federal
diz que, desde que a seca se acentuou, já liberou R$ 7,6 bilhões para os 1.145
municípios nordestinos mais afetados. Fernando Castilho, colunista do Jornal do Commercio, fez as contas e
concluiu: o valor representa apenas metade do que o BNDES liberou para empresas
de Eike Batista e um terço do que o banco repassou à Fiat. O Nordeste merece
mais que isso.
A caixinha de
truques da gestão Dilma ainda previa um novo anúncio de medidas de apoio a
produtores agrícolas da região para a contratação de frete para transporte de
milho. Mas o próprio governo considerou que era muito pouco e suspendeu a
medida, que integrava um “pacote emergencial” para enfrentar o caos logístico
que se instalou no país – e agora foi definitivamente arquivado, conforme a Folha
de hoje.
O mais grave é que,
com o Nordeste mergulhado na mais severa estiagem que se tem notícia em cinco
décadas, as ações do governo federal se limitam a paliativos. Obras emergenciais
continuam consumindo o grosso dos recursos do Orçamento da União, enquanto
ações estruturantes apodrecem, como é o caso da transposição das
águas do rio São Francisco.
De acordo com a ONG
Contas Abertas, de R$ 3,4 bilhões previstos no orçamento de 2012 para obras de
barragens, adutoras e canais, dentro do programa federal Oferta de Água, apenas
R$ 407 milhões foram efetivamente aplicados, o que dá meros 12% do total,
segundo O Globo.
Do que o Ministério da
Integração informa ter investido para enfrentar a seca (R$ 7,4 bilhões), 62%
têm cunho emergencial. Ou seja, repete-se na abordagem ao crítico flagelo da
estiagem no Nordeste o mesmo padrão que vigora para responder a desastres
naturais em outros locais do país: o governo petista opta sempre por remediar,
quase nunca por prevenir.
“O PT não foi capaz,
até agora, de vencer o círculo vicioso da catástrofe social e econômica que
emoldura tradicional exploração política, em que o sofrimento humano é tratado
como oportunidade que se renova e não como situação extrema intolerável”,
opinou O Globo em editorial na sua edição de ontem.
É bom que a
presidente da República volte suas atenções ao Nordeste. A região precisa e
merece. O que não é aceitável é que ela só faça isso em função de fatores
eleitorais. Dilma Rousseff tem ainda 21 meses de mandato pela frente: neste período,
deveria dedicar-se a melhorar as condições de vida dos brasileiros em geral, e
dos nordestinos em especial, e não a empreender sua extemporânea e indevida campanha
à reeleição.
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