A inflação brasileira
furou o teto da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional. O IPCA
acumulado nos últimos 12 meses, divulgado nesta manhã pelo IBGE,
mostra que o bicho segue feio, o que pode levar o Banco Central a subir a taxa
básica de juros na próxima semana.
A inflação de março
foi de 0,47%, mais ou menos dentro do esperado pelos analistas. O índice representa
recuo em relação a fevereiro (0,60%), mas, em compensação, é bem maior que o
registrado em março do ano passado, quando o IPCA fechou em 0,21%.
No acumulado em 12
meses, o IPCA atingiu 6,59%, acima, portanto, da meta de 6,5% definida para a
inflação brasileira. Desde novembro de 2011, quando chegou a 6,64%, o limite
superior não era transposto. É a nona vez durante a gestão Dilma que o teto é
ultrapassado – ou seja, aconteceu em um terço do período já transcorrido do
mandato da presidente.
A tendência é a
inflação acumulada recuar em abril, já que o índice de um ano atrás foi muito
alto (0,64%), mas depois voltar a decolar em maio e junho, pelas razões
opostas: as taxas destes meses foram baixas em 2012 (0,36% e 0,08%,
respectivamente). Daí para frente o BC jura que a inflação cai. Será?
O problema maior é a
desconfiança geral da população no recuo dos preços. Não são apenas agentes de
mercado que direcionam suas expectativas no rumo de uma alta persistente e
generalizada da inflação. O cidadão comum sente isso cotidianamente no bolso e
incorpora este cálculo a seu comportamento.
Num país em que a
memória da inflação ainda é muito latente – afinal, só há menos de 20 anos, com
o Plano Real, conseguimos estabilizar nossa moeda – a expectativa de que o
processo de remarcações possa se acelerar é centelha suficiente para fazer alastrar
o incêndio, que o governo petista até agora pouco fez para conter.
Não são aumentos circunstanciais
que estão inflando o custo de vida no Brasil. Em março, 69% dos 365 itens pesquisados
pelo IBGE ficaram mais caros. É o chamado “índice de difusão”, que mostra quão
disseminada está a alta dos preços na economia. Houve leve diminuição em
relação a fevereiro, quando o indicador fora de 72,3%, mas, ainda assim, a taxa
mantém-se elevada.
Alimentos e bebidas continuam
sendo os principais vilões da inflação, deixando claro que a alta do nível
geral de preços impacta diretamente as condições de vida da população,
principalmente a mais pobre. Ficaram 1,14% mais caros no mês e responderam por
0,28 ponto percentual – ou 60% – do IPCA de março. A cebola e a cenoura se
juntaram agora ao tomate e à farinha de mandioca no bando da carestia.
Quando se analisa o IPCA
regional, constata-se que em 7 das 11 metrópoles pesquisadas o índice anual está
acima da meta. Nas capitais do Nordeste, onde estão as mais altas taxas de
inflação do país, isso já acontece desde fins do ano passado, como mostra O Estado de S.Paulo em sua edição de hoje.
O governo petista não
tem conseguido reagir à altura a este quadro de aumentos fortes e disseminados nos
preços. Esta ótica míope, que só enxerga o curto prazo, levou a gestão Dilma a
apostar na desoneração de alguns produtos como instrumento de contenção da
inflação. A estratégia pode até ter produzido efeitos benéficos de curto prazo,
mas, como os fatores que alimentam a inflação continuam a existir, a triste repetição
dos reajustes continua.
O que melhor poderia
fazer, a gestão Dilma não faz: diminuir os gastos escandalosamente altos do
governo. Para complicar, temos hoje as contas públicas numa situação tão
deteriorada pelas manipulações, paliativos e improvisos da equipe econômica que
praticamente sepulta a possibilidade de obtenção de superávits fiscais robustos
para equilibrar a economia.
Neste beco sem saída
em que se meteu, o governo petista deve se ver obrigado a voltar a subir os juros
na próxima semana, depois de manter a Selic estável desde outubro passado. As atitudes
titubeantes da presidente, principalmente as desastradas declarações sobre
inflação dadas há duas semanas na África do Sul, colaboraram para encurtar ainda
mais a margem de manobra do BC.
O mais relevante é o
governo Dilma abandonar sua atitude passiva e leniente e trabalhar arduamente
para impedir o recrudescimento da inflação do país. Se o PT nunca prezou pela
estabilidade da nossa moeda, os brasileiros sabem que esta é uma conquista da
qual jamais abrirão mão. Isso não tem preço.
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