quinta-feira, 11 de abril de 2013

Inflação: sem teto para decolar

A inflação brasileira furou o teto da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional. O IPCA acumulado nos últimos 12 meses, divulgado nesta manhã pelo IBGE, mostra que o bicho segue feio, o que pode levar o Banco Central a subir a taxa básica de juros na próxima semana.

A inflação de março foi de 0,47%, mais ou menos dentro do esperado pelos analistas. O índice representa recuo em relação a fevereiro (0,60%), mas, em compensação, é bem maior que o registrado em março do ano passado, quando o IPCA fechou em 0,21%.

No acumulado em 12 meses, o IPCA atingiu 6,59%, acima, portanto, da meta de 6,5% definida para a inflação brasileira. Desde novembro de 2011, quando chegou a 6,64%, o limite superior não era transposto. É a nona vez durante a gestão Dilma que o teto é ultrapassado – ou seja, aconteceu em um terço do período já transcorrido do mandato da presidente.

A tendência é a inflação acumulada recuar em abril, já que o índice de um ano atrás foi muito alto (0,64%), mas depois voltar a decolar em maio e junho, pelas razões opostas: as taxas destes meses foram baixas em 2012 (0,36% e 0,08%, respectivamente). Daí para frente o BC jura que a inflação cai. Será?

O problema maior é a desconfiança geral da população no recuo dos preços. Não são apenas agentes de mercado que direcionam suas expectativas no rumo de uma alta persistente e generalizada da inflação. O cidadão comum sente isso cotidianamente no bolso e incorpora este cálculo a seu comportamento.

Num país em que a memória da inflação ainda é muito latente – afinal, só há menos de 20 anos, com o Plano Real, conseguimos estabilizar nossa moeda – a expectativa de que o processo de remarcações possa se acelerar é centelha suficiente para fazer alastrar o incêndio, que o governo petista até agora pouco fez para conter.

Não são aumentos circunstanciais que estão inflando o custo de vida no Brasil. Em março, 69% dos 365 itens pesquisados pelo IBGE ficaram mais caros. É o chamado “índice de difusão”, que mostra quão disseminada está a alta dos preços na economia. Houve leve diminuição em relação a fevereiro, quando o indicador fora de 72,3%, mas, ainda assim, a taxa mantém-se elevada.

Alimentos e bebidas continuam sendo os principais vilões da inflação, deixando claro que a alta do nível geral de preços impacta diretamente as condições de vida da população, principalmente a mais pobre. Ficaram 1,14% mais caros no mês e responderam por 0,28 ponto percentual – ou 60% – do IPCA de março. A cebola e a cenoura se juntaram agora ao tomate e à farinha de mandioca no bando da carestia.

Quando se analisa o IPCA regional, constata-se que em 7 das 11 metrópoles pesquisadas o índice anual está acima da meta. Nas capitais do Nordeste, onde estão as mais altas taxas de inflação do país, isso já acontece desde fins do ano passado, como mostra O Estado de S.Paulo em sua edição de hoje.

O governo petista não tem conseguido reagir à altura a este quadro de aumentos fortes e disseminados nos preços. Esta ótica míope, que só enxerga o curto prazo, levou a gestão Dilma a apostar na desoneração de alguns produtos como instrumento de contenção da inflação. A estratégia pode até ter produzido efeitos benéficos de curto prazo, mas, como os fatores que alimentam a inflação continuam a existir, a triste repetição dos reajustes continua.

O que melhor poderia fazer, a gestão Dilma não faz: diminuir os gastos escandalosamente altos do governo. Para complicar, temos hoje as contas públicas numa situação tão deteriorada pelas manipulações, paliativos e improvisos da equipe econômica que praticamente sepulta a possibilidade de obtenção de superávits fiscais robustos para equilibrar a economia.

Neste beco sem saída em que se meteu, o governo petista deve se ver obrigado a voltar a subir os juros na próxima semana, depois de manter a Selic estável desde outubro passado. As atitudes titubeantes da presidente, principalmente as desastradas declarações sobre inflação dadas há duas semanas na África do Sul, colaboraram para encurtar ainda mais a margem de manobra do BC.

O mais relevante é o governo Dilma abandonar sua atitude passiva e leniente e trabalhar arduamente para impedir o recrudescimento da inflação do país. Se o PT nunca prezou pela estabilidade da nossa moeda, os brasileiros sabem que esta é uma conquista da qual jamais abrirão mão. Isso não tem preço.

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