Azevêdo venceu a disputa
pelo mais alto cargo de um órgão multilateral de comércio do mundo com apoio
maciço de nações em desenvolvimento e de países mais pobres. Seu oponente tinha
suporte explícito dos Estados Unidos e da maioria da União Europeia. Nem por
isso o diplomata brasileiro pautará sua atuação por uma visão cindida de mundo;
já deixou claro que buscará a conciliação.
Embora as
manifestações oficiais tenham sido corretamente comedidas, nos bastidores o governo
brasileiro estaria classificando a vitória de Azevêdo como “reconhecimento à
política externa de aproximação com o hemisfério Sul”, segundo a Folha de S.Paulo. Pragmaticamente, este alinhamento abaixo do Equador pode
até ter rendido mais apoio à escolha do diplomata para a OMC, mas objetivamente
não tem trazido bons frutos comerciais ao país.
O pior que pode
acontecer agora é a gestão petista apregoar que ter conseguido levar Azevêdo ao
comando do principal órgão multilateral de comércio do mundo significa que foi
acertado o caminho trilhado pelo Brasil nestes últimos dez anos em matéria de política
externa e de comércio exterior. Não foi.
A tônica da
diplomacia petista tem sido o direcionamento dos nossos esforços externos no rumo
dos países em desenvolvimento, na chamada política Sul-Sul. Nesta linha, mercados
mais robustos foram praticamente desdenhados nesta última década. A consequência
não tardou: o comércio exterior do Brasil definhou em mercados com o dos EUA e o
europeu – e agora até mesmo na China e na Argentina.
Nestes últimos dez
anos, passamos de superavitários para deficitários nas relações comerciais com
norte-americanos e europeus. A despeito de chineses e argentinos continuarem
aumentando suas importações, a fatia abastecida por produtos brasileiros nestes
mercados está caindo. Até abril, nosso comércio exterior como um todo está no
vermelho, com déficit de mais de US$ 5,7 bilhões, o maior desde 1995 para este
período do ano.
Nossa fatia no
comércio mundial, que já era irrisória, ficou ainda menor no ano passado: caiu
a 1,3%. Isto é praticamente o mesmo patamar de 30 anos atrás. Neste quesito,
entre as principais economias do globo o Brasil foi um dos que teve pior
desempenho em 2012, devido à queda das nossas exportações, como mostrou O Estado de S.Paulo em abril.
O Brasil mantém-se
como uma economia ainda relativamente pouco aberta. A soma de nossas importações
e exportações equivale a 20% do PIB. É bem menos do que em países com perfis econômicos
similares ao nosso: o comércio internacional representa 43% do PIB do México,
47% do da China e 93% do da Coreia.
Num mundo em que,
nos últimos anos foram lançados mais de 450 acordos de comércio, nossa
diplomacia limitou-se a fechar negociações apenas com Palestina, Egito,
Jordânia, Israel, Índia e África do Sul – as duas últimas de escopo bem limitado.
Vicejam ainda as preferências ideológicas e os alinhamentos políticos, com
parcos resultados econômicos.
Em setembro, Azevêdo
assumirá o cargo tendo como missão destravar as negociações multilaterais de
comércio no mundo. Ou seja, sua agenda como diretor-geral da OMC e timoneiro
desta difícil negociação é claramente liberalizante, bem diferente, portanto, da
postura protecionista que o governo brasileiro tem adotado nos últimos anos.
Neste sentido, é sintomático
que o governo Dilma tenha hesitado muito antes de submeter o nome de Azevêdo à
disputa pelo comando da OMC. A candidatura dele foi a última a ser inscrita, no
último dia de prazo, em 28 de dezembro do ano passado, quando os oito demais postulantes
já estavam na briga, como relata hoje o Valor Econômico.
O sucesso de Roberto
Azevêdo na nova função depende de ele fazer à frente da OMC tudo o que a gestão
petista não vem fazendo. Mais êxito ele obterá quanto mais comércio houver. É esta
a lição que o governo brasileiro poderia tirar da escolha do nosso brilhante diplomata
para a direção do órgão sediado em
Genebra.
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