Em seus dez minutos
de duração, o programa é um ato de campanha eleitoral. Mais uma vez, vincula umbilicalmente
a atual presidente a seu antecessor, talvez para não ter que enfrentar a dura
constatação de que, passados quase dois anos e meio, o governo de Dilma
Rousseff praticamente inexiste.
Quando apresenta realizações,
o PT ou apropria-se de feitos alheios ou, muitas vezes, lança mão de informações
gelatinosas. Como, por exemplo, quando fala do número de empregos gerados nos últimos
dez anos: foram muitos, é verdade, mas nenhuma estatística oficial disponível
no Ministério do Trabalho chancela os mais de 19 milhões de vagas que o partido
apregoa ter criado. A diferença se conta na casa dos milhões.
Os petistas também falam
em 41 mil bolsas concedidas a estudantes por meio do Ciência sem Fronteiras,
repetindo o mesmo número que Dilma usara em pronunciamento à nação em 1° de
maio. Recentemente, porém, a Folha de S.Paulo mostrou que as estatísticas estão inchadas por bolsistas que
nada têm a ver com o programa e o total de beneficiários não chega nem à metade
do que o governo diz.
Na seção das
mistificações, há as de sempre. Dilma apresentada como quem está “moralizando o
serviço público” talvez seja a mais risível delas – desta vez, pelo menos, nos
pouparam de vê-la posando na TV como “gerente eficiente”... Mas há também a
falácia de que o governo petista está “combatendo a inflação de forma
implacável”, vocalizada pelo insuspeito Guido Mantega.
Não faltaram também as
promessas de que, agora, enfim, virão as melhorias na nossa caquética
infraestrutura: milhares de quilômetros de rodovias e de ferrovias, novos
portos, usinas e linhas de transmissão. A julgar pela vacilação em torno da
definição das regras de concessão, num eterno jogo de tentativa e erro, e da total
incapacidade de arbitrar as mudanças no marco legal do setor portuário, é
melhor esperarmos sentados...
Mas um dos aspectos
mais evidentes da propaganda, e que também tem marcado os posicionamentos
petistas nos últimos tempos, é a redução dos cidadãos brasileiros à condição de
simples consumidores. Ontem, o PT se apresentou como o partido que “ajudou o
brasileiro a consumir mais e melhor”, “valorizou o consumidor” e transformou
shoppings em “direito de todos”. Valesse ainda o slogan do governo Lula, poderíamos
dizer: Brasil, um país de consumidores.
É curioso que o
partido que passou longos anos pregando as fracassadas ideias socialistas, hoje
tente se caracterizar como a agremiação que abriu as portas do mercado de
consumo para milhões de pessoas. Conquistas e direitos da cidadania parecem não
interessar mais. Deve ser por que, como diz Rui Falcão no programa, eles “não
se prenderam a velhos dogmas”...
O que realmente
interessa para a melhoria das condições de vida da população é apresentado como
um desafio futuro. Dar saúde, educação e segurança que prestem aos brasileiros
seria a próxima etapa do venturoso projeto petista. “A questão básica agora é qualidade”,
diz a presidente-candidata. Mas só agora, Dilma? Só onze anos depois de o PT subir
ao poder? Com mais da metade de seu mandato perdido em torno do nada?
Por trás desta visão
de mundo, parece estar também a forma pela qual o PT encara os brasileiros: “Boa
parte da nossa população não está preparada para um mundo cada vez mais desenvolvido
e altamente competitivo”, diz Dilma. Será que os governos petistas não tiveram
tempo suficiente para mudar isso? Ou será que a opção foi deixar tudo como está?
Por tudo o que se
viu ontem na TV, os petistas demonstram preferir que assim os brasileiros permaneçam,
a fim de que continuem a ser usados como massa de manobra de suas políticas
nada emancipatórias, seu discurso mentiroso e sua maneira torpe de retratar a
realidade do país. Agradar consumidores é sempre mais fácil do que enfrentar
cidadãos.
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