No fim de semana
passado, uma onda de boatos desencadeou uma corrida a agências bancárias de 13
estados do país. Eram pessoas que recebem o Bolsa Família e ficaram
atemorizadas com a versão de que o programa seria extinto. Quase um milhão delas
correram para sacar seus benefícios; em poucas horas, R$ 152 milhões saíram dos
caixas eletrônicos.
O governo apressou-se
a dizer que ocorrera uma boataria que disseminou o pânico a partir da tarde de sábado.
Anteontem, porém, soube-se que a lambança começou pela Caixa Econômica Federal.
O banco, responsável por fazer o pagamento que hoje beneficia 13,8 milhões de
famílias, liberou todos os créditos de uma só vez, contrariando a escala que
tradicionalmente é usada para pagar a bolsa.
Até então, a Caixa negara
qualquer equívoco na operação. No início da confusão, dissera que, com base em
melhorias cadastrais, tivera condições de antecipar os pagamentos – sem explicar,
contudo, como fez isso sem consultar ninguém de seu conselho diretor. Na verdade,
a antecipação foi fruto de uma barbeiragem que a Caixa só admitiu quando foi
pega na mentira na última sexta-feira por reportagem da Folha de S.Paulo.
Tudo indica que o crédito,
que geralmente se estende ao longo de dez dias, foi feito de forma errônea de
uma só vez, numa única data – tanto que, em junho, voltará à sistemática
tradicional. Tivesse admitido isso, a Caixa teria esclarecido de onde poderia
ter partido toda a confusão que se alastrou com a boataria e o caso poderia
estar perto de ser esclarecido. Mas o banco optou por mentir e tudo indica que o
governo atuou para tentar encobrir a lambança.
Na mesma noite em
que a mentira da Caixa veio a público, a Polícia Federal divulgou que os boatos
foram disseminados a partir de uma empresa de telemarketing do Rio. Os dois
órgãos se manifestaram oficialmente com uma diferença de 1h13: a informação
originada na PF foi ao ar às 18h37 de sexta-feira na Agência Brasil; a da Caixa, às 19h50 no site
da instituição. Parece claramente uma ação coordenada.
Se a Polícia Federal
identificou de onde podem ter partido os boatos, deve divulgar o quanto antes
quem foram os responsáveis por isso. Também precisa informar quem contratou a
empresa – afinal, não se espera que equipes de telemarketing saiam por aí
divulgando mensagens ao léu...
“[A PF] Não disse o
nome da central. Nem do seu proprietário. Não disse quem a contratou. Nem como
a central teve acesso aos números de telefones de inscritos no Bolsa Família. Sem
acesso aos números de telefones como a central poderia disseminar boatos?”,
questiona Ricardo Noblat n’O Globo.
Toda a cautela é
necessária neste assunto, até porque envolve milhões de brasileiros das mais
vulneráveis camadas da nossa população. Cautela, porém, foi tudo o que não se
viu até agora entre os petistas, incluindo a presidente Dilma, na condução do
caso. O drama dos beneficiários do Bolsa Família foi transformado em contenda
eleitoral pelo PT.
Para a presidente,
foi algo “desumano” e “criminoso”. Para seu ministro da Justiça, uma “manobra
orquestrada”. Para Luiz Inácio Lula da Silva, coisa de “gente do mal”. Para o
presidente do partido dos mensaleiros, “terrorismo eleitoral”. E para a
ministra de Direitos Humanos, sem quaisquer meias palavras, algo gestado na “central
de notícias da oposição”.
O que estas pessoas
têm a dizer agora, quando fica cada vez mais claro que toda a confusão decorreu
de um erro, seguido de uma mentira, da Caixa Econômica Federal? Serão capazes
de se desculpar? Serão capazes de punir os responsáveis?
Ou preferirão deixar
tudo como está, para, numa próxima ocasião, voltar a usar o Bolsa Família como
arma espúria de disputas pelo poder, revelando que, para o PT, a miséria
interessa mesmo é como massa de manobra? Será este só o começo do que os
petistas estão dispostos a fazer para se manter no comando do país?
Nenhum comentário:
Postar um comentário