A MP dos Portos perde
a validade na quinta-feira. Desde que chegou ao Congresso, no início de
dezembro do ano passada, suscita controvérsias. Tanto, que recebeu 645 emendas,
das quais mais de uma centena foram acatadas pelo relator, senador Eduardo
Braga (PMDB-AM). Com tanta polêmica, ainda não se tem ideia do mostrengo que
pode sair de lá.
Desde o fim da semana
passada, instalou-se no governo o pânico diante da possibilidade de a MP não
ser votada, coroando uma barafunda que já vem se arrastando há algum tempo. Fala-se
que, com a frustração, R$ 35 bilhões em investimentos no setor se evaporarão,
inviabilizados pelas novas regras, como mostra O Globo hoje. A ordem passou a ser aprovar o texto do jeito que der.
Haverá uma tentativa
de votar a MP na Câmara hoje. Provavelmente, resultará infrutífera, porque nem
o PMDB garante que porá seus deputados para deliberar em plenário. Assim, a
votação ficaria para amanhã. Aprovada, restaria ao Senado apenas um dia, meras
24 horas, para analisar e votar uma legislação que altera todo o arcabouço
legal de um setor fundamental para o futuro do país.
E aí caímos no
aspecto mais grotesco da forma com que o governo Dilma age – e que não difere
em nada da de seu antecessor: como uma mudança de tamanha importância pode ser
tratada de maneira tão leviana? A crônica da MP registra que a presidente
jamais convocou os principais representantes do setor portuário para debater e
sua articulação política só piorou a lambança, refutando tentativas de entendimento.
Interlocutores do
governo, com Gleisi Hoffmann à frente, já manifestaram a possibilidade de
acionar um “plano B” caso a votação fracasse. Trata-se de impor as mudanças por
meio de decretos e portarias. A emenda pode ficar muito pior que o soneto: quem
irá se arriscar a pôr bilhões de reais num setor em que as regras podem mudar ao
sabor das marés?
O governo partiu de
uma premissa correta – a necessidade de modernizar a legislação portuária e
abrir o setor a uma maior participação privada – para produzir uma confusão sem
precedentes. Instaurou a insegurança entre os investidores e corre o risco de
piorar o que já é muito ruim.
Não custa lembrar que a estrutura portuária
brasileira é tida como a 135ª mais caquética entre 144 países, segundo o Fórum
Econômico Mundial. Nossos portos encontram-se no limite do limite de sua capacidade de
movimentação de cargas.
Da última vez que o
arcabouço legal dos portos mudou, em 1993, houve intensas discussões em torno
do projeto de lei enviado pelo presidente Itamar Franco. Assim foi também quando
o setor de telecomunicações foi modernizado, em 1997. Agora, assuntos desta
natureza são tratados por MP, a toque de caixa, na base do improviso. Corre-se
o risco de jogar fora ótima oportunidade de fazer uma mudança estrutural que
realmente atenda ao país.
Dilma talvez tenha
acreditado que bastaria operar seu balcão fisiológico no Congresso para garantir
os votos necessários para aprovar sua proposta. Bastaria continuar
distribuindo ministérios e reabilitando faxinados para que a máquina continuasse
azeitada. No entanto, não é isso o que está acontecendo.
Na prática, o
governo também vê erodir seu apoio parlamentar. José Roberto de Toledo mostra
hoje n’O Estado de S.Paulo, com base em resultados de votações na Câmara e no
Senado, que a taxa média de apoio a Dilma no Congresso caiu a 55%. Era de 78%
nos dois primeiros anos de gestão. “A perda de um em cada três apoiadores é
inédita durante o reinado petista.”
Além da MP dos Portos,
o governo petista também tem outro fracasso anunciado: a reforma do ICMS. A proposta
inicial tinha seus méritos, mas, novamente, a inépcia do governo para liderar
debater árduos e negociar consensos falou mais alto e as necessárias mudanças
não deverão acontecer.
A omissão e a
desarticulação em matérias espinhosas – mas, até por isso, cruciais para o
aperfeiçoamento institucional do país – são marcas indeléveis da gestão Dilma.
Foi assim no Código Florestal, foi assim na divisão dos royalties e na
definição das regras do Fundo de Participação dos Estados. A presidente não
entra em bola dividida e ainda deixa que o pau quebre quando o dissenso
instala-se. Dilma Rousseff lidera um governo que não governa.
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