Ontem, o Ministério do
Trabalho divulgou os resultados sobre o comportamento do mercado de trabalho em
abril. Foram criados quase 197 mil empregos no mês, conforme o Caged.
À primeira vista, pode parecer bom, mas, infelizmente, não é. Trata-se do pior
resultado para o mês desde abril de 2009.
Para quem tem
dificuldade para recordar, no início de 2009 o Brasil – como, de resto, todo o
mundo – estava numa pindaíba de dar dó. Vivia-se a ressaca da quebra do banco
Lehman Brothers, ocorrida em setembro do ano anterior e que, àquela altura, ainda
causava fortes dificuldades à economia mundial.
Pois, naquele mês de
2009, foram gerados 106 mil empregos no país. Ou seja, em quatro anos, os números
atuais só não são piores que os daquele tétrico período.
Na comparação com
abril do ano passado, a geração de vagas de trabalho no país caiu 9,2% agora. No
mesmo mês de 2011 e 2010, haviam sido abertos 272.225 e 305.068 novos postos de
trabalho, respectivamente. Ou seja, estamos indo ladeira abaixo.
“Os números de
criação de vagas formais de emprego em abril divulgados ontem confirmam a
desaceleração do mercado de trabalho. A redução entre o saldo de contratações e
demissões mostra que a demanda por trabalhadores vem perdendo fôlego”, analisa
a Folha de S.Paulo.
Além do declínio na
criação de empregos, o que assusta mais é a baixa qualidade do trabalho gerado.
O país tem se notabilizado pela abertura de empregos mal remunerados, situados
apenas na faixa de até dois salários-mínimos. Acima disso, o saldo é recorrentemente
negativo.
Desde janeiro de
2011, ou seja, ao longo do governo Dilma, já foram fechadas quase 1 milhão de
vagas com salários acima de dois mínimos. Para ser mais preciso, até março, o
saldo negativo nesta faixa de remuneração era de 871.853 empregos.
Há outras
características perversas na atual composição do emprego no país. Por exemplo,
a taxa de desocupação entre jovens é mais de duas vezes mais alta que o
desemprego médio. Entre os brasileiros com idade entre 18 e 24 anos, o índice
está em 12,9%, de acordo com o IBGE.
Nas capitais do
Nordeste, o desemprego é, costumeiramente, bem mais alto que nas metrópoles do
Sul e do Sudeste: para uma média nacional de 5,7%, em Salvador e Recife o índice
beira 7% e chega a 9% entre as mulheres soteropolitanas.
Ainda de acordo com o IBGE, temos hoje 3,53 milhões de pessoas que recebem menos de um salário-mínimo nas seis principais regiões metropolitanas do país.
Ainda de acordo com o IBGE, temos hoje 3,53 milhões de pessoas que recebem menos de um salário-mínimo nas seis principais regiões metropolitanas do país.
A presidente da República
usou seu programa
de rádio desta semana para comemorar um resultado que, por quaisquer ângulos
que se olhe, foi ruim. Dilma Rousseff diz que temos que ficar felizes porque
estamos melhores que a Europa. É apenas uma meia verdade.
Afinal, as condições
demográficas do país são muito distintas das de países mais avançados, onde o
tamanho das famílias há décadas já se estabilizou – processo que só agora vai
se consolidando nas camadas mais pobres do Brasil. Entre as brasileiras, a média
caiu de 4,4 filhos nos anos 80 para os atuais 1,9.
Outra mitificação – na
realidade, um mistério – são as estatísticas sobre emprego que o governo
petista anuncia. Segundo disse Dilma em seu programa de rádio, foram gerados no
seu governo 4,139 milhões de empregos, mas as planilhas disponibilizadas pelo
Ministério do Trabalho só permitem chegar a, no máximo, 3,785 milhões.
O mercado de trabalho
ainda é um dos poucos que resiste à debacle geral que vai se abatendo sobre a
economia brasileira como um todo. Mas uma análise mais detida mostra que a
situação não é tão favorável quanto a propaganda petista tenta fazer crer. A primeira
providência para evitar uma piora geral no emprego é ter um diagnóstico mais
realista.
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