A equipe econômica
anunciou ontem que fará corte de R$ 28 bilhões no Orçamento de 2013. Será quase
como passar a faca no vento. Numa contradição absoluta, o resultado do contingenciamento
será o aumento dos gastos a um patamar nunca antes visto.
Isso acontece no exato
momento em que todos os que ainda tentam entender a mixórdia em que se transformaram
as contas públicas do país recomendam justamente o contrário: o governo precisa
frear seus gastos para não jogar mais gasolina na fogueira desvairada da inflação.
No entanto, quando se
cobra e se espera austeridade, a resposta de Brasília vem na forma de maior frouxidão
com o dinheiro público. As despesas com pessoal, custeio, programas sociais e
investimentos deverão atingir 19,2% do PIB neste ano. Serão as maiores da
história do país, e mais altas até do que o governo previa em seu projeto original,
divulgado em agosto passado.
A opção pelo gasto
recorde fica clara no relatório encaminhado pela equipe econômica ao Congresso,
como destaca O Globo. “O cenário de crise internacional levou o governo a adotar e
manter medidas de estímulo à economia, que, neste momento, levam à redução na
arrecadação e ao aumento de despesas”, sustentou o Ministério do Planejamento no
texto.
O governo petista cortou
menos alegando que precisa estimular a economia. Sim, precisa, mas por meio de
investimentos e abrindo mais espaço para que os empreendimentos privados
aconteçam. Gastar mais pura e simplesmente só colabora para piorar o cenário para
a inflação, prejudicando mais, claro, os mais pobres.
Guido Mantega e sua
equipe parecem se esquecer de que a inflação brasileira está no último furo da
meta estipulada para o ano. E só não ultrapassa o teto porque vira e mexe sai
algum coelho da cartola, como o que irá segurar os reajustes das tarifas de
ônibus em São Paulo e o que antecipa para agora créditos de Itaipu que só venceriam
até 2023.
Com as atitudes anunciadas
ontem pelo governo, não resta dúvida de que, na semana que vem, o Banco Central
terá de aumentar novamente a taxa básica de juros. É possível que, desta vez, a
dose tenha que ser maior que o 0,25 ponto percentual de abril. Com a leniência
da equipe econômica, sobra para o BC fazer todo o serviço sujo do combate à
inflação.
Por meio de um monte
de malabarismos, o governo tenta mostrar que suas contas têm pé e cabeça. Mas elas
não têm. A programação orçamentária tornou-se um amontoado de cifras que quase
nada dizem, dada a parca credibilidade de que goza o Ministério da Fazenda no
trato do dinheiro público.
Quem crê que o
superávit fiscal necessário para estabilizar a dívida pública e, também, não
atiçar ainda mais a inflação será cumprido? As premissas utilizadas para fechar
as contas não são verdadeiras: o governo trabalha com crescimento do PIB
irrealista (3,5%), com esforço fiscal de estados e municípios impraticável (1%
do PIB, o que não acontece desde 2008), com promessas de investimentos que a incompetência
da gestão petista torna inexequíveis.
A meta de economia também
vai ladeira abaixo. De R$ 108 bilhões previstos inicialmente, pode cair a menos de R$ 43 bilhões. O governo insiste que, ainda assim, estará cumprindo suas
obrigações fiscais, atingindo os 3,1% do PIB previstos na meta. Só à custa de
muita criatividade. Para a Consultoria de Orçamento da Câmara, o esforço fiscal
poderá ser de apenas 1,4% do PIB em 2013.
A escalada da inflação
brasileira decorre de alguns fatores que escapam ao controle do governo, como o
clima e problemas externos. Mas deve-se, sobretudo, ao aumento de gastos da
gestão federal nos últimos anos. Só o próprio governo petista não parece concordar
com esta avaliação, e insiste em brincar com fogo. Quem paga a conta da
irresponsabilidade é quem vive de salário e se assusta todas as vezes que tem
de comprar tomate para a salada.
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