Os maus resultados
se sucedem. A frustração e o desalento vão se tornando a tônica. O que é
preciso ser feito nunca o é, num repetitivo empurrar com a barriga. Velhos problemas
continuam sem ser enfrentados, ao mesmo tempo em que a leniência faz com que novos
comecem a ganhar corpo. Quando age, o governo logo volta atrás, desfazendo o pouco
que fez.
A semana passada foi
pródiga em resultados ruins. O governo gasta como nunca e vê seus resultados
fiscais minguarem, mas nem se importa mais com isso. Segundo quem manda hoje na
equipe econômica, o importante agora é ter “liberdade” para gastar quanto
quiser, como disse
Arno Augustin, secretário do Tesouro. Ou seja, o bem sucedido modelo baseado na
responsabilidade fiscal morreu.
Logo depois, veio a
rubra balança comercial do quadrimestre, tingida de déficits do princípio ao
fim. O Brasil encolhe sua inserção no mundo, apequena-se sob um manto
protecionista que só interessa a setores industriais muito frágeis e vê sua
participação no comércio global minguar. O fantasma do risco externo ganha
corpo.
O turbilhão negativo
completou-se com os resultados da indústria brasileira no início do ano. O
setor fechou o primeiro trimestre com queda de 0,5% na comparação com o mesmo trimestre
de 2012. Foi o suficiente para por em dúvida as perspectivas para o segmento e,
mais ainda, para a economia do país como um todo neste ano.
Bastou o IBGE
divulgar os números de março para que consultorias e analistas saíssem em disparada
revisando suas projeções de crescimento para baixo. Crescer 3% passou a ser considerado
teto para o PIB brasileiro de 2013. Oxalá, pelo menos consigamos chegar lá, porque,
pelo andar da carruagem, nossa trilha parece ser ladeira abaixo.
A indústria avançou
0,7% em março, depois daquele tombo feio em fevereiro, quando tivera queda de
2,4%, a pior desde a crise de 2008. Mas o setor cresceu apenas cerca de metade
do que se previa. (Pelo menos o segmento de bens de capital, que costuma indicar
como se comportarão os investimentos, teve bom desempenho: alta de 9,8% na
comparação com o primeiro trimestre de 2012.)
Como o consumo local
ainda não deixou de subir, conclui-se que, necessariamente, o mercado nacional
está sendo abastecido por mais artigos importados. As estatísticas corroboram a
suspeita: enquanto a produção industrial brasileira caiu no trimestre, o volume
importado subiu 8% quando comparado ao período de janeiro a março de 2012,
segundo o Valor Econômico.
Com a indústria local
tendo cada vez menos condições de competir com os concorrentes estrangeiros, a
balança comercial do setor passou a exibir déficits gigantescos. O Globo mostra hoje que, de um superávit comercial de mais de US$ 5
bilhões em 2006, a segmento de manufaturados passou a um déficit de US$ 95
bilhões no ano passado. “E o mais preocupante é que a tendência continua sendo
de alta.”
Quanto maior o valor
agregado, maior a dependência em relação ao produto importado. Setores como químico,
têxtil e confecções, autopeças, bens de capital, automóveis e eletroeletrônicos
figuram entre os mais deficitários – na semana passada, o Iedi
mostrou que, neste caso, o rombo já ultrapassa US$ 16 bilhões até março deste ano.
Tudo isso acontece a
despeito de o governo federal ter editado uma fornada de pacotes de incentivo –
são quase 20 desde 2008 – e distribuído benesses fiscais aos borbotões – só em
2012, foram R$ 46 bilhões em renúncias, valor que tende a ser ainda maior neste
ano. Como as ações são desconjuntadas, aleatórias, feitas à base de puxadinhos,
os efeitos positivos não aparecem.
A indústria do
Brasil está num círculo vicioso que a aprisiona numa armadilha de baixo
crescimento e de quase nenhuma perspectiva, se forem mantidas as condições
atuais: custos altos, burocracia sem igual, carga tributária sem concorrentes e
infraestrutura em frangalhos. Se nada novo, e sério, for feito, o destino das nossas
cada vez menos competitivas fábricas será a ferrugem.
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