Nos últimos dias, a
maré começou a trazer boas notícias para o setor petrolífero brasileiro. A
disputa da 11ª rodada rendeu arrecadação recorde de R$ 2,8 bilhões em bônus de
assinatura. Na semana passada, a Petrobras fez uma captação-monstro de recursos
no exterior e, ontem, a Agência Nacional de Petróleo (ANP) confirmou que o
campo de Libra tem reservas recordes de petróleo.
Segundo a ANP, o
poço gigante tem entre 8 e 12 bilhões de barris, o que equivale a quase todas
as reservas atualmente provadas do país, que somam 15,7 bilhões. Localizado a
cerca de 200 km da costa do Rio e com 1,5 mil km2, Libra será posto
em disputa em outubro, um mês antes do inicialmente previsto.
O governo parece
eufórico com o brinquedinho. O leilão ocorrerá, pela primeira vez, em Brasília,
a fim de que a presidente da República apareça na foto. A chefe da ANP se disse
“deslumbrada” com o que tem nas mãos. Estima-se que a disputa possa render até
R$ 9 bilhões em bônus e gerar investimentos de até meio trilhão de dólares.
Numa área tão
portentosa, os riscos são menores e, até por esta razão, o governo irá
inaugurar com o campo de Libra o regime de partilha para exploração de petróleo
no país. É uma clara forma de tentar blindar o novo modelo, ainda alvo de muita
suspeição, de eventuais fracassos na sua tão esperada estreia.
É curioso que, até
um mês atrás, a ANP trabalhava com a perspectiva de que Libra tem bem menos
petróleo – entre 4 e 5 bilhões de barris. Mas, quase três anos atrás, os mesmos
números agora oficializados já eram conhecidos, segundo O Estado de S.Paulo.
Em setembro de 2010,
o jornal publicou
a estimativa de que Libra poderia produzir em torno de 8 bilhões de barris, com
base num relatório da certificadora internacional Gaffney Cline &
Associates. À época, a ANP não confirmou o que agora divulga com amplo estardalhaço.
O Brasil passou
cinco anos sem ofertar um quilômetro quadrado novo de área para exploração de
petróleo. Com isso, a indústria estagnou e a extensão explorável caiu a um
terço. Perdeu-se tempo, dinheiro e muitas boas oportunidades de trabalho. Nada
disso se recupera.
O governo retoma
agora com força as licitações ancorado na boa receptividade que o leilão da
semana passada – que ofertou áreas a serem exploradas sob a forma de concessão
– encontrou entre investidores. O sucesso de Libra ainda depende, porém, da
definição das novas regras que nortearão a exploração sob o regime de partilha.
Uma das incógnitas é
se a Petrobras irá dar conta de ser a operadora única dos poços e ainda honrar
a participação mínima de 30% em todos os consórcios, como prevê o modelo
implantado no governo Lula, mas ainda não testado.
A estatal talvez
tenha que dividir suas energias entre voltar a produzir nos níveis de
excelência com os quais se acostumou desde que passou a atuar num mercado
concorrencial, com a abertura do setor a partir de 1997, e explicar por que tem
operado com tanta dificuldade e feito negócios tão ruinosos nos últimos anos.
Uma CPI está a caminho para tanto.
O bom disso tudo é
que, aparentemente, o setor petrolífero do país vai vislumbrando alguma chance
de emergir do naufrágio que o afundou nos últimos anos. Embora premonitória, “O
poço do Visconde” foi apenas uma peça de ficção escrita por Monteiro Lobato há
quase 80 anos que, ao longo destas décadas, fez a alegria de milhões de
crianças. Mas as perspectivas positivas para o petróleo brasileiro são bastante
reais. Basta fazer o correto.
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