Foram dez minutos em que a presidente, mais uma vez, se dirigiu à nação como chefe de
um governo, ou, mais precisamente, de uma facção. Novamente faltaram a suas
palavras o que distingue um líder de Estado de um temporário ocupante da
principal sala do Palácio do Planalto. Dilma, não há dúvida, confirmou-se meramente
isso: uma burocrata circunstancialmente instalada no topo do comando do país.
A presidente teima em aprisionar a história do Brasil ao que
aconteceu – supostamente de bom – nos “últimos anos”. É incapaz de manifestar
alguma visão de nação, de reconhecimento à trajetória de um povo que há séculos
luta para avançar e já há pelo menos um par de décadas parece ter encontrado
seu melhor caminho.
Não fosse apenas a pequenez da abordagem, o pronunciamento da
presidente também pecou pela inexatidão dos argumentos. Dilma surfou sobre resultados
episódicos do PIB registrados no segundo trimestre – para surpresa geral, inclusive
e principalmente de seu governo – para dourar a pílula de uma economia que
claudica a olhos vistos.
A presidente se vangloriou de um país com “garantia do
emprego, a inflação contida e a retomada gradual do crescimento”. Onde? A
geração de emprego está no nível mais baixo dos últimos dez anos, conforme o mais
recente levantamento do Caged.
A inflação voltou a subir em agosto, segundo o IBGE,
e o que a presidente classifica de “contidos” são alguns dos preços mais altos
do mundo, como qualquer compra de supermercado ou conta de boteco comprova.
A “retomada gradual do crescimento” é um capítulo à parte
nesta saga de empulhações. Embora para a presidente “o pior já passou”, há quem
projete PIB negativo no terceiro trimestre – e não são poucos. O ritmo de expansão
da economia sob Dilma equivale à metade do registrado no governo anterior. No continente,
só ganharemos da Venezuela.
Com sua média anual de 2% de crescimento, a petista só
será superada em ruindade pelos presidentes Fernando Collor e Floriano Peixoto –
em toda a história da República! “O modelo Dilma fracassou. Em 2015, a economia
terá que passar por ajustes, mesmo na hipótese possível de ela se reeleger. O
que Dilma escolheu teve resultado negativo”, escreveu Míriam Leitão na edição
de domingo d’O Globo.
No trecho eminentemente político de seu pronunciamento, Dilma
apresenta aos brasileiros um balanço edulcorado dos cinco pactos que propôs à
sociedade em junho e que resultaram, na vida real, em praticamente nada.
O da saúde resume-se a um programa correto nos objetivos,
mas leviano no diagnóstico e desumano na ação. O pacto da educação limita-se a iniciativas
que levarão, na melhor das hipóteses, uma década para surtir efeito.
Já o pacto da reforma política redundou em piadas como a
Constituinte exclusiva e o plebiscito natimorto, e ressurge agora no Congresso
por meio de projeto sem chance de valer nas próximas eleições. Dilma também teve
a pachorra de dizer no pronunciamento que sua proposta para o transporte
público produzirá resultados no curto prazo. Perdeu o bonde.
Fantasiosas também são suas palavras sobre o “equilíbrio fiscal”.
Neste ano, os resultados do governo serão piores que os do maquiado 2012. Em
2014, o esforço fiscal proposto pela presidente ao Congresso será o menor em 12
anos. Os investimentos continuam representando fração ínfima das despesas públicas
– só não vê isso quem não anda pelo Brasil real.
O viés eleitoreiro dos pronunciamentos presidenciais tem se
intensificado. Dilma ocupa longos espaços na TV e no rádio – pagos com isenção
de impostos – para propagandear supostos feitos de seu governo que não
mereceriam nem notas de rodapé. Basta lembrar que programas como Brasil
Carinhoso e Melhor em Casa já renderam redes nacionais, embora ninguém hoje
saiba mais do que se trata.
Mais uma vez, o pronunciamento da presidente da República a esta
nação de 200 milhões de brasileiros foi coberto pela capa do marketing. Mas não
foi capaz de ofuscar os enormes problemas que a gestão de Dilma Rousseff não
apenas não tem conseguido superar, como tem contribuído para tornar ainda mais severos.
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