O fantasma estatizante e o terror intervencionista fizeram
ontem mais uma vítima. O leilão para exploração do campo de Libra atraiu apenas
uma fração dos interessados esperados. Grandes empresas mundiais do setor
pularam fora. Nossa gigantesca reserva de petróleo pode acabar servindo mesmo é
para pôr fogo na caldeira da economia dos chineses.
Libra será o primeiro campo do pré-sal a ser leiloado, em 21
de outubro. O governo esperava que 40 empresas se interessassem pelo negócio,
mas só 11 se inscreveram. Gigantes como as americanas Exxon e Chevron, primeira
e segunda maiores petrolíferas do mundo em valor de mercado, e as britânicas BP
e BG ficaram de fora.
A maior parte das inscritas – seis – são estatais. Entre as
competidoras estão duas chinesas, uma malaia, uma indiana, uma colombiana, uma
portuguesa, uma espanhola, uma anglo-holandesa, uma francesa e uma japonesa,
além da Petrobras. Já se prevê que número ainda menor delas dê lances no
leilão. A competição deve ser pouca.
Dado o perfil dos participantes, já se prevê que o pré-sal
brasileiro poderá acabar servindo mais para que estatais de outros países assegurem
suprimentos futuros de petróleo do que propriamente para produzir riquezas no presente. São consequências da opção da gestão
petista por substituir o vitorioso modelo de concessões pelo de partilha.
Há cinco anos, ficamos sabendo da descoberta das reservas do
pré-sal. Ato contínuo, o governo Lula anunciou a mudança no marco legal de
exploração de petróleo no país, por mera política miúda – era preciso enterrar
um retumbante sucesso produzido pelo sistema adotado na gestão
tucana – e uma visão ideológica canhestra das coisas.
Durante cinco anos, o Brasil ficou sem licitar novos campos
de petróleo e, com isso, as áreas em exploração do país caíram a um terço do
que eram. Ao mesmo tempo, alçada à condição de operadora única e participante
obrigatória nos consórcios do pré-sal, a Petrobras entrou em derrocada e hoje
vale tanto quanto valia em 2006.
Neste ínterim, a Lusitana rodou e o mundo do petróleo e da
energia girou. Os EUA passaram a explorar o gás de xisto, a Colômbia adotou o
regime de concessão e viu sua estatal, a Ecopetrol, chegar a ultrapassar a
Petrobras em valorização e agora o México também envereda pelo mesmo caminho,
abrindo seu mercado de petróleo, antes monopolista.
Diante desta nova realidade, os investidores viram que era
melhor não continuar esperando o Brasil resolver o que iria fazer com suas
reservas de petróleo e buscaram outras praias. Perceberam que havia riscos
demais a correr apostando no salto no escuro que o governo brasileiro
patrocina, com seus modelos regulatórios modulados ao léu e mudados a todo
instante.
Depois de ver seu modelo de gestão econômica naufragar, o
governo da presidente Dilma Rousseff passou os últimos meses dizendo que a
virada viria agora – e justamente, para desgostos dos petistas, com as
privatizações. Mas as feitiçarias que Brasília inventou, tanto para o setor de
petróleo quanto para as concessões de infraestrutura, só estão conseguindo
produzir fracassos.
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