Os resultados já alcançados na região decorrem muito mais de
políticas de transferência de recursos e de incentivo ao consumo. São, pois, de
alcance limitado, insuficientes para superar os seculares atrasos que afligem a
região. O poder público, em especial o governo federal, não tem buscado promover
o desenvolvimento autônomo e altivo do Nordeste.
Não houve nos anos recentes nenhuma estratégia de
desenvolvimento regional que efetivamente impulsionasse a economia nordestina e
permitisse a implantação de um robusto parque produtivo local. O Nordeste
continua dependente da boa vontade do poder central, e isso não pode continuar
assim.
O Nordeste tem 18% da área, 13,5% do PIB, 27% da população,
mas menos da metade da renda do Brasil: se fosse um país, a região teria apenas
o 145° maior PIB per capita do mundo. É preciso fazer diferente e mudar esta
realidade e esta desigualdade.
Para superar o atraso, o Nordeste precisa de um grande
projeto estruturante, com alcance de longo prazo. Esta estratégia deve estar
baseada na constituição de um amplo plano integrado de infraestrutura que
interligue portos, ferrovias, rodovias, aeroportos, hidrovias e também integre a
região ao mundo.
A solução para o Nordeste passa, também, pelo
desenvolvimento de uma política séria de convivência com a seca, numa área onde
21 milhões de pessoas, o equivalente a 40% da sua população, vive no semiárido.
Não é nada disso o que temos hoje: nos últimos anos, o
Nordeste viveu a sua pior seca em mais de cinco décadas, afetando 10 milhões de
pessoas. No entanto, apenas 22% das obras emergenciais para seca prometidas
pelo governo Dilma foram entregues.
A transposição do São Francisco poderia ser um primeiro
passo, mas a obra arrasta-se: canais que deveriam estar transportando água
desde 2010 hoje deterioram-se sob o sol, secos. Transportar água não é
suficiente; é necessário fazê-la chegar aonde deve, com obras complementares que
garantam melhor aproveitamento e distribuição dos recursos hídricos da região.
Além disso, também devem ser disseminadas tecnologias para
produzir em áreas de pouca água e solos não muito férteis. Elas já existem, desenvolvidas,
sobretudo, pela Embrapa: variedades de sementes adaptadas ao semiárido e mesmo
a criação de caprinos, barata e viável com pouca água. Ou seja, solução há,
basta aplicá-las.
Para promover a necessária arrancada que o Nordeste merece, é
preciso um plano de longo prazo, planejamento cuidadoso e adequado. É tudo o
que, infelizmente, a região não tem hoje. As promessas foram muitas, mas
viraram um cemitério de obras inacabadas. A lista é longa.
Prometida para 2010, a Transnordestina tem hoje apenas 262
km dos 1.728 km previstos prontos. A ferrovia Oeste-Leste deveria estar concluída
em julho passado, mas não tem um metro sequer de trilho assentado. A Abreu e
Lima será a mais cara refinaria já feita no mundo: seu valor multiplicou-se por
dez num intervalo de seis anos.
Hoje falta até energia para o Nordeste avançar: nos últimos
dois anos, a região sofreu quatro grandes apagões – o último, há menos de um
mês, deixou os nove estados no escuro. O Nordeste vê-se obrigado a importar
energia de outras regiões, mesmo tendo 19 parques eólicos prontos, mas parados,
porque não dispõem de linhas de distribuição.
Um número sintetiza esta incúria, este desleixo, esta parca
atenção dispensada pelo governo petista ao Nordeste. Em 2011, o governo Dilma
anunciou investimentos de R$ 215 bilhões na região dentro do chamado PAC 2.
Deste valor, até hoje, quase três anos depois, apenas R$ 17 bilhões foram
aplicados, o que equivale a 8% do prometido. Numa frase: falta compromisso.
Só se supera este estado de coisas com bom planejamento, capacidade
de gestão e seriedade. É possível dar um salto adiante. O Nordeste tem enormes
potencialidades, como o turismo, a fruticultura irrigada e indústrias em ascensão,
como a de calçados.
Entretanto, a maior potencialidade do Nordeste é seu povo: o
nordestino arretado, o sertanejo incansável e sua alegria infindável. Mas são especialmente os jovens nordestinos os
vetores do salto para o futuro que a região precisa e vai dar.
Os nordestinos querem, e terão, mais e melhores empregos,
formação profissional de maior qualidade e oportunidades para subir na vida com
suas próprias pernas, sem paternalismo. Terão, também, mais segurança: não dá
mais para assistir a escalada de violência que golpeia a região sem que a União
sequer esboce reação.
Além disso, aqueles que dependem do Estado devem continuar
contando com o apoio e o auxílio financeiro do poder público. Isso é um direito
assegurado e não muda. Mas este deve ser um ponto de partida, jamais uma meta
de chegada.
Chegou a hora de fazer do Nordeste um lugar melhor, mais
justo com seu povo e sua história de luta. Até porque o Nordeste não é
problema, o Nordeste é solução.
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