O governo reuniu um
time de ministros para assegurar a investidores estrangeiros que o Brasil “respeita
contratos”. Para comprovar a suposta veracidade de seus propósitos, a
presidente disse que “há mais de 20 anos” é assim. Se tivesse que se valer do presente,
seu discurso provavelmente seria encarado pela audiência como uma peça de ficção
assemelhada às fábulas dos irmãos Grimm...
“Se tem um país que
respeita contrato, é o Brasil. (...) Não interessa o governo que assinou. Você
pode não gostar de quem fez o contrato. Você pode discordar do contrato. Mas
ele foi assinado por uma autoridade e ele será cumprido. É uma questão de
Estado, e não de governo”, disse a presidente, para uma plateia formada por investidores
reunidos pelo banco Goldman Sachs.
O pessoal da audiência
deve ter se arrepiado. O que dizer da brutal intervenção patrocinada pelo
governo Dilma nos contratos de energia? O que dizer da mudança no bem sucedido marco
legal do petróleo, substituído por um salto no escuro? O que dizer da
desenfreada manipulação das tarifas públicas, da qual a Petrobras é a maior,
mas não a única, vítima?
Fernando Pimentel,
um dos integrantes da comitiva presidencial, foi mais longe na estratégia de fiar-se
na herança bendita tucana e até reconheceu que o PSDB tinha mais credenciais do
que o PT para vencer a hiperinflação à época da edição do Plano Real, quase
duas décadas atrás, conforme registra O Estado de S.Paulo.
Na realidade, é difícil
comprar Dilma e seu governo pelo seu valor intrínseco. E os investidores estão
carecas de saber disso. A atual administração é errática, titubeante, indecisa
e, por que não dizer, só inspira insegurança em quem quer empreender. Muito diferente,
portanto, de quem cumpre regras e imprime rumo claro à gestão, como era o caso
do governo tucano.
Ontem mesmo, no
mesmo momento em que a presidente vendia aos americanos uma suposta
estabilidade, sua equipe anunciava, em Brasília, que, mais uma vez, as regras do
programa de concessões serão alteradas. Empresas que antes não podiam disputar
Galeão e Confins agora podem – vale lembrar que a proibição havia sido baixada por
determinação da própria Dilma.
Com isso, há chance até
de surgir um novo monopólio no setor, com risco de que venha a deter 85% da
operação dos voos internacionais do país, concentrados em Guarulhos e Rio. Os leilões
dos aeroportos, que seriam em outubro, devem ficar para dezembro. Provavelmente,
não será a última mudança no processo.
Na prática o que vigora
na gestão petista é um método peculiar de gestão: o “se colar, colou”. Lançam-se
propostas ao léu na esperança de que elas passem incólumes pelo crivo dos
interessados. Só ao longo do processo é que vai se verificar se as iniciativas param
ou não de pé. Em geral, derrapam na primeira curva.
Quem melhor explicitou
isso foi a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. “Lançamos propostas e
fazemos a interação com todos os atores que devemos fazer. É um processo de
aperfeiçoamento com interação”, disse ela ontem a’O Globo, para explicar por que o governo teve que rever, mais uma vez, as
regras para a concessão dos aeroportos e, provavelmente, também terá de buscar
alternativas para a privatização das BRs 101, 153 e 262.
Este método
alucinado, evidentemente, já mostrou que não é capaz de render os resultados
que o país precisa. No caso das concessões, a Folha de S.Paulo sintetiza hoje o tamanho do fiasco: dos 25 leilões de
infraestrutura previstos para este ano, apenas oito, se tanto, deverão
acontecer. E pensar que o governo petista encarava as privatizações como sua tábua de
salvação...
Ferrovias? Os estudos
ainda são muito superficiais para atrair interessados e até a estatal chave no
processo será agora extinta. Portos? Os levantamentos são considerados ruins e os
riscos jurídicos, elevados demais. Com isso, todos os leilões destes dois
modais vão ficar para depois, quiçá para as calendas.
É forçoso constatar:
o governo do PT só se manteve de pé enquanto os benefícios decorrentes das
reformas e transformações levadas a cabo pela gestão Fernando Henrique perduraram.
Depois que os petistas decidiram trilhar seu próprio caminho, mais ou menos
desde 2009, o país descambou. Toda herança, se não é bem trabalhada, um dia
acaba. A do país, o PT torrou sem legar quase nada aos brasileiros.
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