A oportunidade nasceu de iniciativa capitaneada pelo líder
do PSDB na Câmara, deputado Carlos Sampaio (SP). Na semana passada, ele
protocolou mandado de segurança junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo
a anulação da vergonhosa sessão que manteve o detento Donadon no cargo.
Ontem, o ministro Luiz Roberto Barroso, do STF, não apenas deferiu
a liminar, como também manifestou que a Mesa Diretora da Câmara deveria ter
simplesmente declarado a perda imediata do mandato do deputado-presidiário.
Isto porque o tempo mínimo que Donadon tem a cumprir atrás
das grades (26 meses) supera o que ele ainda tem de mandato (17 meses). Nestas condições,
entende Barroso, o Congresso tem poder de encerrar automaticamente o mandato do
parlamentar condenado em definitivo, sem consulta ao plenário.
Há dois meses, Natan Donadon está encarcerado no presídio da
Papuda em Brasília, onde cumpre pena de 13 anos de prisão pelos crimes de
formação de quadrilha e peculato. É o primeiro parlamentar da história nestas
condições. Ele e um irmão desviaram R$ 8,4 milhões da Assembleia de Rondônia
nos anos 90.
Na quarta-feira passada, a cassação de Donadon foi à votação
em plenário e obteve apenas 233 dos 257 votos necessários para aprovação. Dos
405 deputados presentes, 131 foram contra cassá-lo e 41 simplesmente se
abstiveram. Não dá, porém, para saber quem são eles e elas, pois o voto neste
tipo de votação continua secreto no Parlamento. Mas isso está prestes a mudar.
Além do presente que ganhou com a aprovação da liminar
movida pelo líder tucano, o Congresso terá nos próximos dias mais duas
oportunidades para desentortar suas práticas. Há duas propostas de emenda
constitucional (PEC) tramitando no Parlamento que podem servir para dar um
basta a episódios deploráveis como o que ocorreu na semana passada.
Na Câmara está em discussão a PEC 196/2012, de autoria do
senador tucano Alvaro Dias (PR), que acaba com o voto secreto em sessões que decidem
perda de mandato de deputados. A proposta tramita em comissão especial e hoje
será debatida com a presença de ministros do STF, a pedido do relator, o deputado
Vanderlei Macris, também do PSDB de São Paulo.
Já o Senado discute a PEC 18/2013, de autoria do senador
Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). A proposta determina a perda imediata do mandato
de congressistas condenados em definitivo por improbidade administrativa ou
crime contra a administração pública.
Tanto uma quanto a outra devem estar prontas para votação
nas próximas três semanas, constituindo-se numa real “pauta positiva” que
deputados e senadores podem aprovar em consonância com os valores que a
sociedade brasileira exige. Não será, porém, tão fácil e tão natural quanto
pode parecer à primeira vista para os cidadãos de bem.
Ontem mesmo, o PT – que, junto com partidos da base, já havia
dado uma forcinha para livrar Donadon na semana passada – demonstrou desconforto
e protestou contra a decisão do ministro Barroso. Ao contrário do PSDB, que defende
a perda imediata do mandato do deputado-presidiário, os petistas querem que a Câmara
ainda espere o STF julgar o mérito da matéria.
Com um olho no peixe, outro no gato, os petistas visam mesmo
é uma maneira de mudar o destino de seus deputados mensaleiros, condenados pelo
STF a gramar alguns anos na cadeia. Mas não se pode aceitar que o PT e sua base
de apoio continuem a conspirar para tragar ainda mais a imagem do Parlamento
para um poço que, sem iniciativas como as de Carlos Sampaio, Alvaro Dias e
Jarbas Vasconcelos, parece sem fundo.
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