Se ainda poderia haver alguma euforia alienada acerca da pujança da economia do Brasil, a edição desta semana da revista The Economist servirá como último prego no caixão. Menos de quatro anos depois de saldar a “decolagem” do país, a mais respeitada publicação econômica do mundo afirma que o país “estragou tudo”.
Ao longo de 14
páginas de reportagem está descrito o rosário de mazelas com as quais convivemos
diariamente, notadamente depois que o PT resolveu pôr sua própria receita em
ação: o investimento precário, o gasto público excessivo, o descuido com a educação,
a carga tributária sufocante. Há também o assustador custo de tudo no país,
desde uma simples fatia de pizza a uma diária de hotel.
A lista de exemplos
do custo Brasil é infindável: o mesmo carro fabricado aqui é 45% mais barato no
México; um smartphone custa 50% mais aqui do que nos EUA; uma firma de porte
médio gasta 2.600 horas para preparar sua declaração de renda. Desde 2003, o
custo unitário do trabalho no país dobrou – em dólar, triplicou – em função da
escassez de mão de obra.
Um dos destaques mais
negativos do país hoje são os investimentos em infraestrutura, equivalentes a
1,5% do PIB, enquanto a média global é de 3,8%. Uma das consequências nefastas deste
desleixo são os custos de logística: a precariedade de nossas estradas faz com
que 25% do valor da produção de soja do Mato Grosso, por exemplo, seja gasto no
seu transporte até o porto, enquanto um concorrente americano dispende apenas
9%.
Os grandes projetos
do PAC são apresentados pela revista como obras com “anos de atraso e muito
acima do orçamento”. Não espanta que tenhamos apenas a 114ª pior infraestrutura
entre 148 países analisados pelo Fórum Econômico Mundial. Para recuperar o
terreno perdido, o Brasil precisaria triplicar seus investimentos anuais no
setor durante 20 anos.
Embora considere que
estes são problemas que vêm de longa data, a Economist avalia que a presidente Dilma Rousseff conseguiu tornar a
situação bem pior. “Dilma tem sido relutante em enfrentá-los, e criou novos
problemas, interferindo mais que o pragmático Lula”. A presidente “afastou
investidores de projetos de infraestrutura” e “minou a reputação conquistada a
duras penas” na gestão macroeconômica.
A publicação não tem
dúvidas em apontar o caminho que poderia fazer o país retomar o rumo do desenvolvimento
sustentável: reformas, reformas e mais reformas, num país sufocado por uma das
mais altas taxas tributárias e um dos mais altos custos de produção em todo o
mundo. Na pauta, deveriam estar a redução da burocracia, a simplificação de
impostos e a atualização de leis trabalhistas.
Para a publicação
britânica, é necessário redefinir o gasto público, tornar os negócios no Brasil
mais competitivos e encorajar os investidores a voltar a acreditar no país. “A
maneira de fazer isso não é, como o governo acredita, proteger as empresas, mas
expô-las a mais concorrência externa enquanto move-se mais rapidamente para
eliminar os obstáculos internos”. Com
este pessoal que está aí é difícil aplicar a receita...
A revista não deixa
de citar algumas das grandes vantagens do país: nossa eficientíssima agricultura, impulsionada
pela aplicação de modernas técnicas de cultivo, notadamente no cerrado; as
tecnologias de exploração de petróleo em águas profundas e uma estabilidade
social que contrasta com a onda de protestos promovidos em junho passado.
Alguns porta-vozes
do governo se apressaram a dizer que a Economist
exagera no seu pessimismo em relação ao Brasil. Curiosamente, estes mesmos áulicos
comemoraram quando a revista enxergou um país que decolava em fins de 2009. Mas
o que fica claro na reportagem é que é o governo brasileiro o maior responsável
pela frustração. Não dá para os petistas terceirizarem uma responsabilidade que
é todinha deles.
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