O voto do decano do STF, Celso de Mello, já era favas
contadas, uma vez que em outras ocasiões o ministro já se manifestara favoravelmente
aos embargos. Com ele, o placar acabou em 6 x 5, uma derrota sofrida de quem
espera e clama por justiça e uma vitória apertada dos mensaleiros, que torcem
por se livrar de qualquer punição.
Se há algo de bom na decisão sacramentada ontem por Mello é
o fato de enterrar qualquer acusação ou suspeita de que o Supremo agiu como um “tribunal
de exceção” ao condenar próceres petistas pelo maior escândalo de corrupção da
história política do país. É mais uma prova de que o julgamento foi absolutamente
correto e equilibrado.
Aceitar os infringentes deve ser visto como algo legítimo e
de direito. É do jogo. Mas há algo mais inconteste ainda: o fato de que a
quadrilha que assaltou cofres públicos para dar suporte ao governo do PT
encontra-se condenada pela mais alta corte de Justiça do país. Não há embargo
que mude isso. O que se discutirá agora é, apenas, se seus delinquentes merecem
penas maiores ou menores.
Que fique claro: os infringentes tão somente abrem a
possibilidade de reexame de casos em que os condenados obtiveram quatro votos pela
absolvição. Assim, José Dirceu, por exemplo, pode até ver sua pena por formação
de quadrilha reduzida – e com isso safar-se de gramar um tempo atrás das
grades – mas não se livrará de nem um tico de sua condenação por corrupção
ativa.
De qualquer modo, é inegável que a decisão de ontem do
Supremo cria nos cidadãos a percepção de uma justiça feita com dois pesos e
duas medidas, para ricos e para pobres. Mais técnica e rigorosa para estes
(quantos ladrões de galinha estão presos nas nossas apinhadas cadeias?), mais
leve para aqueles.
“A opção da maioria do Pleno pela admissibilidade desses
embargos infelizmente ressuscita, e reforça, a ideia de um Judiciário elitista,
em que ricos e poderosos têm tratamento privilegiado, jamais frequentam cadeia”,
lamenta O Globo em editorial. “Aos ‘técnicos’, o peso da lei. Aos ‘políticos’, a
leveza do sei lá o quê”, reforça Eliane Cantanhêde na Folha de S.Paulo.
Há outro aspecto perverso na aceitação dos embargos
infringentes: a percepção de que nunca chega o dia em que a justiça será
finalmente feita. Perpetuam-se os recursos, posterga-se a execução das
sentenças, permite-se que os malfeitores jamais sejam punidos. O dever do STF é
não permitir que isso ocorra.
Pelos prazos processuais previstos, o julgamento do mensalão,
que já consumiu 54 sessões do Supremo, entrará 2014 adentro. O cadáver
insepulto dos mensaleiros continuará jazendo na sala, lembrando a todos o monumental
esquema montado pelo PT que resultou no desvio de milhões de reais dos cofres públicos
para financiar o projeto de poder do partido.
Resta à sociedade cobrar por justiça. Com seus advogados
contratados a peso de ouro, os mensaleiros farão de tudo para melar o jogo,
protelando quanto puderem a execução das sentenças e a punição dos culpados. A Justiça
pode até tardar, mas não pode falhar. Os corruptos que ontem festejaram a decisão
do Supremo não podem acabar impunes.
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