Em seu Relatório de Inflação, publicado trimestralmente, o BC projetou inflação
mais alta, crescimento mais baixo e juros ainda em ascensão. É a equação
perversa que a receita aplicada pelo atual governo está nos legando, sem
perspectivas de nos levar longe ou, pelo menos, a algum porto seguro.
A inflação
brasileira deverá continuar oscilando em torno de 5,8% ao ano até pelo menos
2015. Trata-se de padrão muito alto para qualquer economia que se pretenda em
desenvolvimento. Com isso, a presidente Dilma Rousseff passará os quatro anos
de seu mandato sem cumprir uma vez sequer a meta estipulada pelo Conselho Monetário
Nacional, de 4,5% ao ano.
Pior: a petista terá
produzido inflação média de 6% anuais no quadriênio. Tudo isso a despeito de
impor forte arrocho sobre as tarifas públicas, represando preços que, mais dia,
menos dia, irão estourar – como é o caso dos transportes públicos e da
gasolina. Os preços controlados pelo governo subiram apenas 1,3% nos últimos 12
meses e os preços livres, 7,6%.
Se a inflação não
deve cair, o PIB não deverá decolar. Para este ano, a projeção, que começou 2013
em 3,1%, foi revista de 2,7% para 2,5%, mantendo-se neste patamar pelo menos
até meados de 2014. “Se os juros subirem mais para combater a inflação, como é
amplamente esperado pelo mercado, é possível que o crescimento do PIB fique
menor que isso”, antevê o Valor Econômico.
A esta combinação
adversa soma-se o comportamento das contas públicas, cada vez mais
destrambelhadas. Ontem mesmo, o Tesouro revelou o resultado fiscal do setor público
consolidado em agosto e a fotografia que saiu foi feia que dói: pela primeira
vez em meses de agosto desde 2001, as contas de União, estados e municípios fecharam
no vermelho.
O setor público teve
déficit primário (sem considerar o pagamento de juros) de R$ 432 milhões no mês.
Vale lembrar que, um ano antes, o país havia gerado superávit de R$ 3 bilhões. Com
o desempenho decepcionante, já se dá de barato que nem com muita maquiagem a
meta fiscal fixada para 2013 pelo ministro Guido Mantega há apenas algumas
semanas (2,3% do PIB) será cumprida.
“Permanecem remotas
as chances de cumprimento, sem truques de contabilidade, da meta de poupar R$
111 bilhões neste ano para o abatimento da dívida e para o controle da inflação”,
considera a Folha de S.Paulo. Seria necessário obter superávits acima de R$ 14 bilhões em
todos os quatro meses até dezembro, coisa que em 2013 só aconteceu em janeiro.
O superávit
acumulado até agosto está 27% menor do que há um ano. Quando considerado o
período de 12 meses, a economia para pagar juros situa-se em 1,82% do PIB. Ou seja,
teremos desempenho pior do que o do maquiado 2012 e, no ano que vem, também
teremos o resultado mais baixo desde que foi instituído o regime de metas fiscais
no país, em 2001.
O mais lastimável é
constatar onde está indo parar todo este dinheiro. Enquanto os gastos de
custeio sobem 14,5% de janeiro a gosto, os investimentos caem 6,7%. Em valores
correntes, as despesas não financeiras cresceram R$ 65 bilhões, enquanto os
investimentos declinaram R$ 350 milhões. Assim, não tem risco de dar certo.
Mesmo assim, o Banco
Central considera benigno o desempenho das contas públicas do país. A política
fiscal teria deixado de ser expansionista – ou seja, que colabora para ampliar
a demanda na economia e, com isso, a inflação – para tornar-se neutra. Com tanto
resultado ruim, ninguém é capaz de saber onde o BC conseguiu enxergar isso.
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