Nas últimas semanas,
tornou-se nítida a tentativa de apropriação de bandeiras caras ao PSDB por
atores políticos que pouco ou nada têm a ver com elas. A mais evidente veio da
presidente Dilma Rousseff: com seu governo fazendo exatamente o oposto do que
propugna um regime de responsabilidade e estabilidade, ela passou a postar-se
como paladina da austeridade, inclusive perante investidores no exterior, como
fez há duas semanas. Nada mais falso.
O governo brasileiro
tornou-se useiro e vezeiro em não cumprir contratos e em implodir as bases para
a confiança mútua, como ficou evidenciado na intervenção imposta às empresas de
energia, na manipulação dos preços da gasolina e no tortuoso processo de
concessão de infraestrutura recém-iniciado, mas com resultados até agora
pífios.
Também tem sido
assim com a inflação. Ontem mesmo, em mais uma de suas agora recorrentes
incursões a Minas, a presidente voltou a asseverar
que seu governo cumprirá, “pelo décimo ano consecutivo”, as metas definidas
pelo Conselho Monetário Nacional. Só pode ser pilhéria. Na realidade, desde
2002, a meta de inflação só não foi estourada em três ocasiões: 2006, 2007 e
2009.
Nos demais anos, os
índices gerais de preços sempre lamberam o limite superior da banda de variação
– em 2003 chegou a estourá-lo. Dilma, aliás, passará todo seu mandato em brancas
nuvens, sem atingir o centro da meta uma vez sequer. E, sabemos todos, o teto
só não deverá ser ultrapassado neste e no próximo ano porque o governo manipula
despudoradamente os preços dos combustíveis e tarifas públicas, como as de
ônibus e energia.
A presidente também veste
um figurino que não lhe assenta bem quando diz que seu governo exibe um dos
mais baixos níveis de endividamento que se tem notícia no mundo. Novamente falso.
Os indicadores mais comportados, digamos assim, da dívida pública são os que se
referem ao endividamento líquido, os mesmos crassamente manipulados pela criativa
contabilidade da equipe econômica de Dilma.
Quando se observa a
dívida bruta – padrão mundialmente adotado para aferir a capacidade de solvência
e pagamento das economias – o Brasil surge como um dos países que estão em pior
situação entre os emergentes. Enquanto estes têm endividamento médio de 35% do
PIB, a dívida bruta brasileira varia entre 59% (pelos parâmetros defendidos por
Brasília) e 68% do PIB, conforme a régua usada pelo FMI.
O insólito é ver a
presidente brigando com possíveis oponentes que até pouco tempo atrás também faziam
parte do governo do PT por políticas que os petistas, quando ainda estavam na
oposição, tentaram inviabilizar de todas as maneiras. Quem não se lembra da contestação
à Lei de Responsabilidade Fiscal e a oposição raivosa ao Plano Real, tanto por
parte do PT quanto por parte de seus aliados de hoje e de ontem?
Em contrapartida, austeridade
no trato do dinheiro público, tolerância zero em relação à inflação e maior
abertura do país à economia internacional – criando espaço para investimentos privados
e estrangeiros que melhorem as condições de vida dos brasileiros – sempre foram
a plataforma de governos e postulantes tucanos.
O Brasil precisa,
sim, retomar o curso do desenvolvimento sustentado, com reformas estruturais,
que foi seguido pela gestão tucana e depois se viu implodido pelo governo
petista. Mas certamente não serão cristãos-novos ou falsos convertidos que se
habilitarão a levar o país de volta ao rumo desejado. Só quem tem convicções e experiência
comprovada tem condições de embalar novamente esta agenda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário