Em relatórios
divulgados nos últimos dias, o FMI e a OCDE disseram mais ou menos o que todo o
mundo que acompanha e vivencia o dia a dia da economia brasileira já sabe: o
país enveredou por um caminho que está nos conduzindo a um mau destino. A
balbúrdia que se instalou na gestão das contas públicas está minando a
capacidade de desenvolvimento do Brasil.
Em síntese, o FMI vê
desequilíbrios perigosos na política fiscal, perda acentuada da competitividade
nacional, ameaças causadas por uma inflação persistentemente elevada,
insuficiência de poupança doméstica, baixos investimentos e uma completa
ausência de qualquer ímpeto reformista na atual gestão do país.
Já a OCDE reforça a
preocupação com a necessidade de se restabelecer alguma racionalidade nos
gastos, com redução da dívida pública e abandono da famigerada maquiagem na
contabilidade fiscal. A instituição chega a sugerir que o governo brasileiro
adote uma meta para as despesas públicas em substituição ao superávit primário.
Se tais
recomendações e pontos de vista podem parecer mera preocupação de gente que só
olha para números e não vê cara nem coração, outra das observações presentes no
trabalho divulgado anteontem pelo FMI sintetiza os efeitos danosos da atual
política econômica sobre o cotidiano dos brasileiros: a redução do potencial da
nossa economia pelos próximos anos.
Segundo o Fundo, o
PIB do Brasil crescerá no máximo 3,5% ao ano até o fim desta década. Se
acelerar mais que isso, como aconteceu em 2010, irá gerar desequilíbrios que se
manifestarão na forma de alta da inflação, como também aconteceu desde 2010. Como
se sabe, preços em alta penalizam diretamente os mais pobres.
“Estimativas
consensuais do potencial de crescimento vêm sendo constantemente revisadas para
baixo e estão agora em seu mais baixo patamar desde que os preços das
commodities começaram a subir em meados dos anos 2000”, observou o FMI no
documento, cuja divulgação o governo petista tentou embarreirar por três meses.
A nova estimativa é
0,75 ponto percentual menor que o potencial que o FMI antevia até então para o
Brasil. País que cresce menos gera menos riqueza e menos oportunidade de
trabalho. País que cresce menos encurta suas possibilidades de superar atrasos
históricos e de promover efetivo bem-estar para sua população. Esta é uma
vereda pela qual o Brasil não deveria se embrenhar, mas tornou-se nossa
realidade e, pelo que prevê o FMI, corre risco de virar nossa sina no futuro.
FMI e OCDE não são
aparelhos de oposição ao PT, mas parece que a equipe da presidente Dilma os vê
assim. Ontem, uma penca de seus auxiliares, com Guido Mantega à frente, foi a
campo para tentar desqualificar as críticas divulgadas na véspera. Fariam
melhor se tomassem os alertas como mais uma indicação de que precisam melhorar
o que o governo deles faz.
O ministro da
Fazenda chega a argumentar que o Brasil faz hoje o mesmo que fez após a crise
de 2008 e foi então aplaudido pelo FMI. Mas parece ignorar que circunstâncias
distintas demandam remédios distintos e o governo brasileiro ministra as mesmas
doses tanto para momentos de escassez de consumo e crédito, como aquele, quanto
para excesso de demanda e insuficiência de oferta, como agora.
“Afirmar que a
deterioração das contas públicas brasileiras só está na imaginação dos
desinformados é acrescentar mais um furo na credibilidade do governo”, comenta
Celso Ming n’O Estado de S.Paulo. Infelizmente,
porém, é difícil crer que alguma mudança de comportamento ou melhora por parte
dos petistas virá.
Ontem mesmo, o
Planalto divulgou novo decreto definindo qual será o papel da estatal Valec na
modelagem das concessões de ferrovias. E lá, mais uma vez, aparece a injeção de
farto dinheiro público para sustentar negócios capengas que deveriam ser
exclusivamente privados: serão mais R$ 40 bilhões de dívida pública para pagar
a construção de 11 mil km de ferrovias previstos no Plano de Investimento em
Logística. A máquina de produzir desequilíbrios continua a pleno vapor.
Equilíbrio,
estabilidade e responsabilidade no trato das contas públicas não é coisa de
quem só pensa em cifras. É condição fundamental para que um país avance de
maneira sustentável e sem aventuras. Estas lições a presidente Dilma Rousseff e
o pessoal de seu governo parecem não ter aprendido, nem parecem dispostos a
aprender.
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