A perspectiva para
os títulos negociados pelo Brasil passou de “positiva” para “estável”.
O rating dos papéis, porém, não foi alterado, por ora. A Moody’s revê agora a
expectativa positiva que há apenas um ano – em novembro passado – enxergara
para a economia brasileira. Tem motivos de sobra para isso.
Esta é a segunda
agência a rebaixar suas expectativas para os títulos do Brasil. Em junho, a
Standard & Poor’s já havia colocado os papéis do país em perspectiva “negativa”.
De lá para cá, as coisas não melhoraram nada. Pelo contrário.
No comunicado
emitido ontem (que, embora em inglês, vale ser lido na íntegra), a Moody’s diz
que alguns dos principais fatores que haviam levado a agência a enxergar uma
perspectiva positiva para o Brasil “não estão mais presentes”.
Cita a piora de
indicadores como a relação dívida pública/PIB e investimento/PIB, a deterioração
da contabilidade fiscal, o uso de recursos do Tesouro para empréstimos a bancos
públicos – que já ultrapassa 9% do PIB – e a “evidência” de que o Brasil esteja
atravessando um longo período de baixo crescimento.
Diz a Moody’s que a situação
brasileira é bem pior que a de países que desfrutam do mesmo rating concedido
pela agência. Nossa taxa de investimento está em 17,6% do PIB e não deve
superar 20% neste e no próximo ano, enquanto a média de economias classificadas
como Baa (a nota de risco dada pela agência ao Brasil) é de 23,8% do PIB.
O tamanho da nossa
dívida também destoa dos países de classificação similar à nossa. A Moody’s a
vê em ascensão, ao redor de 60% do PIB, enquanto a média das demais nações com
mesmo rating situa-se em 45%.
A agência é incisiva
quando analisa as perspectivas para o crescimento futuro do PIB do país: “continuam
fracas” e dificilmente a taxa irá ultrapassar 2% neste e no próximo ano, “levando
a economia brasileira a apresentar crescimento abaixo da tendência por quatro
anos consecutivos”.
O Brasil patina nos últimos
anos porque temos desafios estruturais que, além de não estarem sendo
enfrentados, estão se agigantando. Para começar, nossa produtividade é baixa:
enquanto cresceu 1,8% anual em média no Brasil nas duas últimas décadas, na Coreia
aumentou 5%; na Turquia, 4% e no Chile, 3,8%, segundo o professor Dani Rodrik, de Princeton.
Outra das nossas pragas
é a má regulação e o intervencionismo excessivo do governo nos negócios
privados. O melhor exemplo é o que está acontecendo no setor de infraestrutura,
em que leilões que, aparentemente, tinham tudo para atrair o interesse de
investidores naufragam por falta de clareza de regras. O superendividamento da “supertele”
criada sob as bênçãos do governo do PT – e que agora naufraga – é outra evidência
deste mesmo mal...
O alto custo de mão
de obra também está entre nossas deficiências crônicas e se faz notar,
principalmente, na indústria. A fraqueza do setor ficou mais uma vez confirmada
com o crescimento zero anotado em agosto, conforme divulgado
pelo IBGE ontem. Reforça-se, assim, a perspectiva de expansão nula ou mesmo negativa para o nosso PIB no terceiro trimestre.
A avaliação da Moody’s
apenas corrobora um sentimento que já tem se mostrado bastante latente entre
investidores e analistas: a perda de confiança no Brasil. Nossos problemas não
são conjunturais, nem cíclicos. Tampouco apenas refletem dificuldades
enfrentadas no mundo como um todo, como quer fazer crer o governo petista. Nosso
inferno está aqui dentro mesmo.
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